Uma nova reportagem exibida na noite de domingo pelo programa Fantástico mostrou que o monitoramento americano no Brasil incluía a estatal brasileira.
A revelação de que a Petrobras foi alvo de espionagem é baseada em documentos ultrassecretos entregues pelo ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden, asilado na Rússia. O material para a reportagem foi entregue a Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro e é correspondente do jornal britânico The Guardian no Brasil.
Em nota publicada no jornal Washigton Post, a agência negou que fizesse espionagem com finalidade econômica, mas o nome da Petrobras aparece como alvo num passo a passo para invadir redes privadas. A finalidade econômica também aparece nos documentos da NSA entregues por Snowden. Na Petrobras, conforme a reportagem do Fantásico, um dos alvos seria a obtenção de informações sobre o pré-sal, camada com até sete quilômetros de profundidade no subsolo marinho que se estende da costa do Espírito Santo até Santa Catarina.
Em outubro, será realizado o primeiro leilão dedicado a áreas do pré-sal (veja quadro). A expectativa é de que o pré-sal possa conter de 70 bilhões a 100 bilhões de barris de gás e óleo. Quando foi anunciada, em 2006, a descoberta prometia levar o Brasil a ser um dos seis países com as maiores reservas no planeta, superado apenas por nações do Oriente Médio.
No domingo anterior, a série de reportagens mostrou que a comunicação da presidente Dilma Rousseff e de seus assessores era monitorada pela NSA. Gerou uma crise diplomática entre Brasil e EUA. O Brasil pediu explicações, e Dilma cancelou o envio de uma equipe que prepararia sua visita de outubro aos EUA. Na reunião do G-20 em São Petersburgo, na Rússia, Dilma afirmou que o Brasil quer saber "tudo o que há" sobre o país nos serviços de espionagem dos EUA. O presidente Barack Obama se comprometeu a buscar informações.
Não é a primeira vez que Brasil e Estados Unidos se estranham devido ao pré-sal. Em 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou explicações do governo norte-americano sobre o reaparecimento da chamada Quarta Frota, unidade da marinha dos EUA reativada após 60 anos para monitorar as águas da América Latina. À época, Lula chegou a relacionar a decisão da Casa Branca à descoberta do pré-sal. Não há informação sobre a extensão da espionagem, nem se a NSA conseguiu entrar nos supercomputadores da estatal.
Apesar do suprimento de energia ser uma questão central nos EUA, imaginava-se que o interesse de Washington pelo petróleo brasileiro havia arrefecido com a descoberta de imensas reservas de gás de xisto. A exploração das jazidas provoca inquietações ambientais, mas a alta produção já reduziu a dependência dos EUA, que só produz petróleo para abastecer um quarto de sua necessidade. Ainda antes de a reportagem ser exibida, a assessoria de imprensa da Petrobras informou que não comentaria a suposta espionagem.