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Há exato um ano do primeiro escândalo da fraude do leite no Rio Grande do Sul, três pessoas foram presas na manhã desta quinta-feira no Vale do Taquari acusadas de participar do esquema de adulteração do alimento com produtos químicos. Desta vez, as investigações não flagraram apenas os transportadores, mas também proprietários de indústrias em Imigrante e Paverama.
Na 5ª etapa da Operação Leite Compen$ado, encabeçada pelo Ministério Público com apoio do Ministério da Agricultura e Receita Estadual, foram presos os empresários Ércio Vanor Klein, dono da Pavlat, de Paverama; e Sérgio Seewald, proprietário da Hollmann, de Imigrante. A terceira prisão foi de Jonatas William Krombauer, responsável pela política leiteira da Hollmann.
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Conforme as investigações, que começaram há nove meses, os empresários eram coniventes e sabiam da correção da a acidez de leite velho e deteriorado com substâncias químicas como soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada. Em uma das interceptações telefônicas, feita no dia 7 de novembro do ano passado, o proprietário da Pavlat disse a um interlocutor:
- Cara, peróxido mata alguém? Não - falou Klein, em referência a substância peróxido de hidrogênio, popularmente conhecido como água oxigenada.
As duas indústrias investigadas fabricavam leite UHT e também derivados, como queijo e bebidas lácteas:
- Tiramos alguns lotes do mercado, mas provavelmente muitos produtos fabricados com leite adulterado foram consumidos - aponta o promotor de Justiça Mauro Rockenbach, à frente das investigações desde o ano passado.
Além das três prisões, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em municípios onde 11 transportadores atuavam: Paverama, Imigrante, Teutônia, Arroio do Meio, Encantado, Novo Hamburgo, Venâncio Aires, Cruzeiro do Sul, Marques de Souza e Travesseiro. Foram expedidos ainda mandados de apreensão de 34 caminhões utilizados para transportar leite adulterado.
Fraude detectada em 91 laudos
A fraude em cargas de leite foi detectada em coletas periódicas feitas pelo Ministério da Agricultura em 91 laudos elaborados pelo laboratório da Univates. Os resultados dos exames coincidem com grande quantidade de produtos químicos comprados pelos investigados que entregavam leite à Pavlat e à Hollmann.
- De 2009 até abril de 2013, quando começamos a operação, os transportadores compravam ureia em grande escala. Depois disso, passaram a comprar bicarbonato de sódio e soda cáustica, conforme notas fiscais investigadas - destaca Rockenbach.
Nas análises constatou-se que além do estado de deterioração, devido à alta acidez provocada pela proliferação de microrganismos, alguns produtos colocados à venda estavam em estado de decomposição - mesmo dentro da validade.
- Trata-se de um envenenamento em massa, beirando ao genocídio, contra os consumidores de leite cru e seus derivados, um crime hediondo, com consequências graves é sérias à população - salientou a juíza Patrícia Stelmar Netto, Teutônia, na decisão que defere os pedidos de prisão dos acusados.
Um ano de flagrantes
1ª fase
8 de maio de 2013, em Ibirubá, Ronda Alta, Boa Vista do Buricá, Horizontina e Guaporé
Fraude: adição de água e ureia com formol
2ª fase
22 de maio de 2013, em Rondinha, Boa Vista do Buricá e Horizontina
Fraude: adição de água e ureia com formol
3ª fase
7 de novembro de 2013, em Três de Maio
Fraude: adição de água oxigenada
4ª fase
14 de março de 2014, em Condor, Bossoroca, Vitória das Missões, Tupanciretã, Panambi, Santo Augusto, Capão do Cipó, Ijuí e Entre-Ijuís
Fraude: adição de água e ureia com formol e suspeita de soda cáustica
5ª fase
8 de maio de 2014, em Paverama, Imigrante, Teutônia, Arroio do Meio, Encantado, Venâncio Aires, Cruzeiro do Sul, Novo Hamburgo, Marques de Souza e Travesseiro.
Fraude: adição de diversos produtos (soda cáustica, bicarbonato de sódio, água oxigenada e citrato)
*Zero Hora