Indústria perde vantagem de 2013
O tarifaço incomoda os consumidores e prejudica também o desempenho da indústria gaúcha, que tem enfrentado dificuldades neste ano. Depois da redução de 32% na conta de luz das fábricas ano passado, o setor fechou 2013 com um crescimento de 6,8% no Rio Grande do Sul, o maior entre os Estados brasileiros.
Nos primeiros meses deste ano, no entanto, o desempenho tem sido bastante irregular. Dos quatro meses apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve recuo na produção industrial em três: janeiro, março e abril.
- A conta de luz representa até 8% dos gastos de uma indústria. Setores importantes como petroquímico e metalmecânico são especialmente prejudicados. Esse aumento elimina todo o ganho do ano passado - afirma Carlos Faria, coordenador do Grupo Temático de Energia da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Getulio Fonseca considera o aumento uma "traição" e aponta perda de competitividade com a elevação dos custos.
Desconto na hora errada
O Palácio do Planalto tentou evitar o quanto pôde repassar ao consumidor o aumento no custo da energia. O motivo é que o avanço na conta de luz é considerada uma medida antipática em ano eleitoral.
Além disso, tem efeito cascata nos preços. Com a inflação beirando o teto da meta (que é de 6,5% ao ano), o reajuste estimula o dragão a voar ainda mais alto. Além do financiamento bilionário dado às companhias elétricas, o governo adiou a implementação das bandeiras tarifárias, que deveriam ter entrado em vigor no início de 2014.
O sistema prevê símbolos coloridos nas faturas indicando aumento no preço da energia caso o país passe por aperto de oferta - como o atual. Se passasse a vigorar em janeiro passado, já começaria com bandeira vermelha, o que indicaria acréscimo de R$ 3 para cada 100 kWh consumidos. A previsão é de que a bandeira tarifária comece a valer em 2015.
São Pedro ajuda, mas não segura a tarifa
Tão esperada nos últimos dois anos, a chuva deve aparecer com mais frequência no segundo semestre e afastar temporariamente o risco de racionamento de energia. O afago de São Pedro, no entanto, não será suficiente para segurar o preço da conta de luz, e reajustes ainda mais pesados devem ser cobrados em 2015, projetam especialistas. O tarifaço aplicado até agora ainda não paga todo o gasto das companhias com a compra de energia - mais cara - das termelétricas. Para tentar segurar a alta, o governo liberou até financiamento especial para evitar quebradeira no setor. A cifra já está em R$ 20 bilhões e deve crescer. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) admite que as distribuidoras podem precisar de novo empréstimo. A fatura deve ser cobrada dos consumidores em várias doses.
Diretor-executivo do Grupo Safira, consultoria especializada em energia, Mikio Kawai Jr, vai adiante e afirma que, com tamanho endividamento, os reajustes das três concessionárias que atuam no Rio Grande do Sul devem vir acima de 20% nos próximos quatro anos - pelo menos.
- Energia também obedece à lei da oferta e procura. Se a produção está mais escassa, é esperado que o preço fique mais caro. Acontece que o consumidor não recebeu sinal nenhum sobre isso durante dois anos. Além disso, a manutenção da tarifa induziu a população a continuar consumindo - afirma.
A temporada entre novembro e abril, chamada de período "úmido" no Sudeste - quando mais chove - é crucial para que hidrelétricas possam armazenar água e atuar com capacidade máxima no decorrer de todo o ano. Foi a precipitação escassa nos últimos dois anos que forçou o acionamento das termelétricas.
As esperanças para evitar uma conta ainda mais alta estão depositadas na visita de um velho conhecido dos gaúchos, o fenômeno El Niño A chegada do fenômeno climático deve antecipar a temporada de chuva no país e amenizar a situação dos reservatórios nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde ficam os maiores reservatórios e os níveis estão mais baixos.
O QUE ESTICA A CONTA
- Falta de chuva
Clima está seco no Sudeste e Centro-Oeste há pelo menos dois anos. Juntas, as duas regiões respondem pela maior parte da geração do país. Com reservatórios em níveis muito baixos, foi necessário acionar em potência máxima as termelétricas - muito mais caras.
- Reservatórios menores
Construção de reservatórios menores em novas hidrelétricas - para reduzir o impacto ambiental - acentua a dependência da chuva. Hoje, o nível mínimo permite geração de energia por cinco meses. Décadas atrás, era capaz de suprir a demanda por até cinco anos.
- Dólar no alto
Devido a um acordo com o Paraguai, a produção de energia da usina binacional Itaipu, dividida entre todas as concessionárias que atuam no país, é negociada com base no dólar. Quando a cotação da moeda sobe, a tarifa também aumenta.
- Redução fora de época
A redução no preço da luz, em janeiro de 2013, foi considerada precipitada por especialistas. O anúncio foi feito quando termelétricas estavam em funcionamento. A energia mais barata incentivou o consumo em período de seca.

Pouco mais de um ano depois da tão comemorada redução no preço da energia, os gaúchos estão sendo surpreendidos por tarifaços na conta de luz de deixar o cabelo em pé. Depois dos clientes da AES Sul terem as tarifas reajustadas em quase 29%, em abril, foi a vez de os consumidores da RGE levarem um choque no bolso, na semana passada, com o anúncio de aumento de 22%.
Para os usuários da CEEE, que terão nova tarifa a partir de 25 de outubro, as notícias não são nada animadoras. Projeções da consultoria TR Soluções, especializada em calcular custo da energia, indicam alta para as residências de 26,41%, quatro vezes a inflação no período. Os tarifaços não devem parar por aí. Especialistas estimam que reajustes pesados sejam aplicados pelo menos até 2018.
Leia todas as últimas notícias de Zero Hora
O aumento na conta de luz tem sido aplicado em todas as regiões do país, mas foi ainda mais agressivo para os gaúchos. Enquanto o Rio Grande do Sul teve reajustes médios acima de 25%, outros Estados tiveram alta em torno de 15%. No Ceará, o reajuste médio foi de 16,77%, em Sergipe, 11,85% e no Rio Grande do Norte, 12,75%.
- A diferença de reajustes ocorre porque cada distribuidora estabelece contratos exclusivos com as companhias geradoras. Algumas assinaram novos contratos nos últimos 12 meses para atender à demanda dos consumidores e foram obrigados a pagar mais caro pela energia que estavam comprando - explica Paulo Steele, da TR Soluções.
O motivo do aumento é o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas que tem obrigado o governo a acionar em potência máxima as usinas termelétricas, que gastam mais para gerar energia. Até agora, o Planalto tem evitado racionamento, mas o consumidor paga um preço alto pela garantia do abastecimento.
- O corte de 20% na tarifa que o governo fez em 2013 foi artificial. Houve redução de preço cobrado sem que tenha havido ganho de produtividade. O governo deu azar de pegar dois anos de seca, mas nesse ramo não podemos contar com sorte. Alguma hora, a conta iria chegar. Chegou agora, e bem alta - critica Mikio Kawai Jr, diretor-executivo do Grupo Safira, consultoria especializada em energia.
COMECE EM CASA
Confira como economizar, uma forma de compensar o reajuste
Eletrodomésticos
- Máquina de lavar e ferro de passar consomem bastante energia. Portanto, tente usá-los quando houver bastante roupa acumulada para realizar o trabalho de uma única vez.
- Evite deixar aparelhos eletrônicos em stand-by. Esse modo pode representar gasto mensal de 12%. Tire da tomada.
- Desligue o monitor do computador ou o coloque em modo de economia de energia quando não estiver no ambiente.
Climatização
- Ao comprar ar-condicionado, dê preferência a modelos com A no selo Procel, mais eficientes.
- Mantenha janelas e portas fechadas com o aparelho ligado.
- Não exagere na refrigeração ou aquecimento do ambiente.
- Limpe o filtro do aparelho, pois a sujeira prejudica o rendimento.
Refrigeração
- Não abra a porta do refrigerador por tempo prolongado sem necessidade.
- Evite colocar na geladeira alimentos e líquidos quentes.
- Não forre as prateleiras da geladeira com vidros ou plástico, pois dificulta a circulação do ar.
- Verifique a borracha de vedação para evitar perda de ar frio e, se for preciso, substitua.
Iluminação
- Troque lâmpadas incandescentes por fluorescentes. Duram mais e consomem menos energia.
- Para leitura e trabalhos manuais, prefira iluminação dirigida, para ter mais conforto e economia.
- Dê preferência a luminárias abertas, o que possibilita reduzir em até 50% as lâmpadas sem perda da qualidade da iluminação.
Fonte: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
* ZERO HORA