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Anunciada em julho como solução para a crise financeira da Iesa Óleo e Gás, a associação da empresa, cuja controladora está em recuperação judicial, com a empreiteira Andrade Gutierrez (AG) até agora não se concretizou - e está cada vez menos provável. A situação ameaça contratos de US$ 800 milhões para a construção de módulos destinados a plataformas da Petrobras no polo naval do Jacuí.
A indefinição deixa trabalhadores apreensivos e alimenta rumores de demissão em massa. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (Sindimetal) de Charqueadas, Jorge Luiz Silveira de Carvalho, e o prefeito do município, Davi Gilmar, consideram certa a desistência da Andrade Gutierrez do negócio.
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Gilmar disse ter recebido de um diretor da Iesa a informação de que até cem demissões poderiam ocorrer nos próximos dias, enquanto a empresa busca um novo parceiro. O presidente do Sindimetal chegou a anunciar que mais 200 trabalhadores seriam desligados ainda ontem (cem já foram demitidos nos últimos meses), o que não se confirmou.
Em nota, a Iesa informou apenas que ocorreram 10 demissões na última quinta-feira "porque os funcionários não atenderam às necessidades da empresa". Sobre a parceria com a Andrade Gutierrez, a Iesa sustentou que as negociações continuam.
Questionada sobre o contrato, a empreiteira afirmou que "tem encontrado algumas dificuldades na negociação em relação à situação atual da Iesa", sem detalhar quais seriam os obstáculos. Chama atenção que, pouco mais de um mês atrás, ao responder pedido semelhante, o discurso da empresa era de que o acordo já havia encerrado a fase de negociação.
Insegurança jurídica e recursos limitados
Uma fonte que acompanha a crise no polo do Jacuí atribui a indefinição ao pedido de recuperação judicial feito em setembro pelo Grupo Inepar, controlador da Iesa.
Como as empresas do grupo operam em regime de caixa único, o processo, em andamento na Justiça de São Paulo, impõe insegurança jurídica ao novo sócio, por depender da concordância de credores com o plano de recuperação da empresa, a ser apresentado até meados de novembro.
Outro problema é financeiro: os candidatos a sócios teriam problemas em cumprir o contrato com os recursos disponíveis no momento.
A demora pode afetar a entrega dos módulos à Petrobras, prevista para 2017. No início do mês, a AG chegou a acenar com a transferência de 16 dos 32 módulos contratados para produção na China, com objetivo de garantir o cumprimento do cronograma. Apesar de reduzir a encomenda à metade, a parte restante asseguraria a manutenção de cerca de mil empregos em Charqueadas nos próximos dois anos.
O prefeito da cidade diz que está aguardando o resultado das eleições para pressionar o governo federal a intervir no processo, já que a Petrobras contratou os módulos. A reportagem entrou em contato com a estatal, que não havia se manifestado sobre o caso até o fechamento desta edição.
Entenda a situação
Em 2012, a Iesa obteve contrato para fornecer módulos de plataformas para a Petrobras e investiria mais de R$ 100 milhões em uma unidade em Charqueadas.
No início de 2014, a crise financeira do Grupo Inepar, controlador da Iesa, afetou as atividades.
Com a produção em Charqueadas quase parada, a Petrobras ameaçou rescindir o contrato.
Para salvar o pedido, a Iesa buscou associação com a Andrade Gutierrez, anunciada em julho. Contudo, até agora o contrato de parceria não foi assinado.
Em setembro, o Grupo Inepar entrou com pedido de recuperação judicial.
Um plano de pagamento das dívidas deve ser apresentado em novembro à Justiça.