Vale tanto para a presidente Dilma Rousseff, que fala em crise e impeachment sem dar-lhes o devido peso, quanto para os adversários do governo que, nos últimos dias, semeiam clima tão negativo que pode se tornar contraproducente para todos. O Brasil vive uma crise - ou várias ao mesmo tempo -, não há o que discutir. Essa crise, porém, precisa ser corretamente dimensionada para não levar nem à imobilidade nem à desesperança. Falar clara e abertamente sobre isso pode ser penoso para o governo, mas é essencial para o real peso aos problemas. E fornecer instrumentos para reagir. É democrático e republicano.
A inflação é a mais pesada da última década. E alguns aumentos são especialmente perversos, porque se relacionam a produtos insubstituíveis, como energia elétrica e combustíveis, que afetam pobres e ricos. Até mais os pobres do que os ricos. Mas a alta dos índices de preço ainda não é sequer parecida com o período inflacionário mais traumático do país.
A indústria perde fôlego, mas não está "parada", como se ouve em conversas alarmistas de pessoas ilustradas. E muitas têm perspectiva favorável: a de recuperar exportações que haviam sido perdidas com a valorização do real frente ao dólar. Muitas empresas no Brasil olham os sinais do mercado e se movem, não apenas para sobreviver, mas para crescer até dois dígitos em 2015.
Nunca ficou tão claro que a corrupção se institucionalizou no Brasil, como relatou ontem o ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco. Mas nunca houve tantos corruptores na cadeia quanto agora. E se dá para confiar na palavra de corrupto confesso, os confiáveis banqueiros suíços foram elegantes cúmplices.
E se a oposição ganhou o melhor discurso dos últimos anos, não deveria jogá-lo fora. O aceno do governo de conceder reajuste maior na tabela do IR a quem ganha menos pode ser obra de conveniência política e pressões sobre aliados rebeldes e poderosos, mas negar acordo para aprovar a medida não é exatamente bom exemplo político dos adversários.