A disparada do dólar deixa aquele gosto de perda, seja na capacidade de fazer compras e viagens internacionais ou na crença na tese de que a moeda forte não é bom investimento. Tem gente ganhando rios de dinheiro. Mas até experimentados operadores de mercado, como Wagner Salaverry, sócio-diretor da Quantitas, ponderam que o comportamento do câmbio é a variável de mais difícil projeção.
Neste momento, as estimativas para o final do ano estão abaixo de R$ 3, valor ultrapassado ontem pela primeira vez desde 2004. É verdade que em um cenário, na perspectiva de hoje, até benigno: considera que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, entregue o superávit prometido e o governo, nas palavras de Salaverry, "pare de atrapalhar".
Portanto, pode haver novas altas. Mas são seguras para levar à compra de moeda com finalidade de aplicação? Só se o candidato combinar três características: forte apetite por risco, investimentos diversificados para absorver perdas e bastante dinheiro no bolso - além de arriscada, a aposta legal no dólar embute imposto, taxa de administração e custo de carregamento (despesas financeiras, seguros e outros).
Mas como já entramos no terceiro mês do ano, aproxima-se outro tipo de combustível à órbita verde: a elevação do juro nos Estados Unidos. As estimativas são de que as taxas bancárias saiam do negativo, em termos reais, no segundo semestre. Com perspectiva de ter remuneração para aplicações seguras, investidores podem fazer o movimento chamado de "flight to quality". Com saída de capital externo, a menor quantidade de dólares no Brasil pressionaria a cotação.
Nem desdobramentos da Lava-Jato para outros segmentos, como se presume há meses e agora a delação premiada dos executivos da Camargo Corrêa pode precipitar, teria forte impacto sobre o mercado, na avaliação de Salaverry. Mas há outro potencial de novos estragos. - Se o foco parar no BNDES e isso tiver impacto sobre os financiamentos do banco, o risco de perturbação é alto - adverte Salaverry.