Marta Sfredo
Os nervos do mercado e do Banco Central (BC) serão postos à prova nesta quarta-feira. Há quase consenso de que a decisão comunicada no início da noite será a manutenção da taxa de juro em 14,25% ao ano. Mas também surgiram dúvidas esparsas depois da queda acentuada do PIB no segundo trimestre e do envio do orçamento ao Congresso com previsão de um rombo de R$ 30,5 bilhões que na prática significa um buraco bem maior, traduzido em aumento de endividamento caso a situação seja mesma essa.
Nesse cenário, o BC tem de decidir entre prolongar a recessão, mantendo a taxa elevada, ou abortar o controle da inflação que começa, timidamente, a dar resultados. Mas uma surpresa é possível? Até é, mas pouco provável.
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- Se reduzir a taxa de juro agora, o BC vai perder o que já perdeu várias vezes, a credibilidade - avalia Carlos Thadeus de Freitas, economista que já foi diretor da instituição.
Na avaliação de Thadeu, que conhece as liturgias monetárias, enquanto não mudar a mensagem de que pretende atingir o centro da meta de inflação (4,5% ao ano) ainda em 2016, o BC não fará novos movimentos inesperados, como o que desorientou a economia há quase exatos quatro anos - foi em 29 de agosto de 2011. Para alcançar uma de suas metas, que é coordenar expectativas e sinalizar movimentos de mercado com antecedência, o BC tem de seguir seus ritos.
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É fato que uma redução de juro ajudaria a conter a pressão do endividamento - as estimativas são de que um corte de 0,5 ponto poderia baixar o custo do pagamento de juros em até R$ 10 bilhões. Freitas lembra, porém, que a missão do BC é fazer política monetária, não fiscal.
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Parlamentares de oposição acusaram a presidente Dilma Rousseff de "renunciar" a uma tarefa essencial de governo, que é ao menos tentar equilibrar receitas e despesas, em vez de supostamente "transferir" o problema para o Congresso. Embora o tempo seja curto - soluções emergenciais têm de aparecer até o final deste mês para evitar as restrições legais para mudança na cobrança de tributos, por exemplo, ainda há expectativa de que sim, os ases nas mangas do Planalto apareçam no jogo.
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