
O cenário econômico nacional desfavorável e a falta de confiança dos empresários no futuro dos negócios impactaram na intenção dos investimentos da indústria gaúcha para 2016. Das empresas entrevistadas, apenas 59,9% pretendem realizar investimentos, um novo recorde negativo da série histórica da pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). Os recursos serão utilizados principalmente para dar continuidade a projetos anteriores (73,5%). Já a intenção de investir em novos projetos foi citada por 26,5% dos entrevistados, conforme levantamento divulgado nesta quarta-feira.
Das empresas que não planejam realizar investimentos nesse ano, a incerteza econômica é apontada por 92,6% do total para a falta de um projeto. Em seguida vem a reavaliação da demanda e ociosidade elevada (54,3%), custo do crédito (43,2%), dificuldade na obtenção de financiamento (27,2%) e aumento inesperado no custo previsto do investimento (12,3%).
"A falta de uma perspectiva de melhora no quadro econômico do país leva ao adiamento dos novos projetos de investimentos. Na medida em que os empresários vislumbrarem uma reversão dessa conjuntura, a tendência é que ocorra uma reavaliação da necessidade de adequação da capacidade produtiva", comentou presidente da Fiergs, Heitor José Müller.
O estudo ouviu 216 empresas, sendo 27 pequenas, 33 médias e 157 grandes.
Leia todas as últimas notícias de Zero Hora
A proporção de empresas da indústria gaúcha que investiu em 2015 foi de 70%, patamar mais baixo de toda a série histórica, iniciada em 2010. A incerteza econômica (80,9% das respostas), a reavaliação da demanda e a elevada ociosidade (54,4%) foram os principais obstáculos para a realização dos investimentos em 2015. O custo do crédito também foi apontado como entrave por 35,3% dos entrevistados. No ano anterior, o problema foi indicado por 15% das empresas. Com 25% das respostas, a dificuldade de obtenção de crédito e aumento inesperado no custo tiveram 25% dos apontamentos, ante 15% e 10%, respectivamente em 2014.
"Por um lado, a situação econômica fez com que as linhas de financiamento se tornassem mais escassas. Por outro, a retirada de incentivos fiscais e os reajustes em insumos importantes para a produção, como energia elétrica e combustível elevaram os custos do setor", disse Müller, ao avaliar a pesquisa.
Somente 46,7% conseguiu realizar os investimentos programados para o ano, número que também é o mais baixo já registrado. Para 50,4% a efetivação dos projetos foi parcial, enquanto 0,7% transferiu os investimentos para 2016 e 2,2% adiou ou cancelou os planos. As aquisições de máquinas e equipamentos, que viabilizam o aumento da capacidade produtiva das indústrias também foram afetadas e recuaram de 92,2% em 2014 para 87,9% em 2015. Os resultados acompanham o quadro de deterioração da economia e os níveis de confiança historicamente baixos do empresariado.
O estudo mostra ainda que a maior parte das empresas (66,3%) utilizaram recursos próprios para os investimentos, o maior percentual em seis anos de pesquisa. Outras fontes de financiamentos foram: bancos oficiais de desenvolvimento (15,7%), bancos comerciais privados (7,8%) e públicos (7,4%).
Se o ano de 2015 não foi propício ao investimento as perspectivas para esse ano se mantêm desfavoráveis. Para 37,9% dos entrevistados, a capacidade produtiva é mais do que suficiente para atender a demanda de 2016. Já 54,7% avalia sua capacidade como suficiente, enquanto apenas 7,5% julgam pouco suficiente sua capacidade para atender a procura esperada para o ano. Em 2015, 11,3% das empresas indicavam falta de capacidade instalada.
Entre os principais objetivos dos investimentos em 2016, melhorar o processo produtivo foi apontado por 49,5% de indústrias. Em 2015 o item teve 45,3% das respostas. Já a introdução de novos produtos será a meta de 20% das empresas, ante 17,2% da última pesquisa. A intenção de comprar máquinas e equipamentos em 2016 foi sinalizada por 91,5%, ante 94,7% do ano anterior. O estudo também mostra uma queda na propensão das compras de máquinas e equipamentos importadas (68,5%) e retração na intenção de investimento no mercado interno, passando de 71,4% em 2015 para 56,3% em 2016. Em contrapartida, o número de empresas que pretende investir igualmente no mercado interno e externo subiu de 22,4% para 37,8%. Não existe a intenção de investimento exclusivo no mercado externo, embora 5,9% das indústrias o tenham como foco mais relevante em comparação com o interno (4,1% em 2015). A forte crise no mercado doméstico e a desvalorização da taxa de câmbio, que aumenta a competitividade das mercadorias no exterior, explicam esse resultado.