
A locomotiva da indústria gaúcha andou no ritmo mais lento dos últimos sete anos em 2015, e a sinalização no caminho indica que a velocidade continuará reduzida em 2016. Divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Industrial Mensal revela que a produção industrial no Estado despencou 11,8% em 2015. Foi o segundo maior recuo do Brasil.
A média nacional também caiu, só que em menor intensidade: 8,3%. Dos 15 locais pesquisados, 12 seguiram a mesma tendência. O único com performance pior do que o Rio Grande do Sul foi o Amazonas, com retração de 16,8%.
Nessas regiões, segundo o IBGE, o menor dinamismo foi influenciado por queda na fabricação de bens de capital (principalmente caminhões e veículos para transporte de mercadorias), intermediários (autopeças, derivados do petróleo, produtos têxteis, siderúrgicos e de metal), de consumo duráveis (entre eles automóveis e eletrodomésticos da linha branca), e de consumo semiduráveis e não-duráveis (basicamente medicamentos, vestuário, bebidas e alimentos).
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Apenas Pará, Mato Grosso e Espírito Santo assinalaram avanços no índice acumulado no ano. Os resultados foram impulsionados, em grande parte, pelo comportamento positivo da indústria extrativa no Pará e no Espírito Santo, e do setor de produtos alimentícios no Mato Grosso.
No caso do Rio Grande do Sul, o economista César Conceição, do Núcleo de Contas Regionais da Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE), afirma que o mau desempenho tem relação direta com dois dos setores de maior peso na indústria do RS. O de máquinas e equipamentos recuou 26,3% e o de veículos, 33,9%. No Brasil, as duas áreas também decaíram, embora a retração tenha sido menor - respectivamente, 14,6% e 25,9%.
- A conjuntura econômica nacional influenciou o desempenho da indústria gaúcha - conclui Conceição.
Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico e Eletrônico do Estado (Sinmetal), Gilberto Petry sentiu na pele o problema. Ele é diretor-presidente da Weco, indústria de equipamentos termomecânicos, como fornalhas e caldeiras, localizada em Porto Alegre.
- Sofremos uma redução de cerca de 30% no faturamento em 2015. Foi um ano difícil para todos. O consumidor final não tem dinheiro e parou de comprar. As lojas pararam de encomendar. É um ciclo vicioso - afirma Petry.
As entidades que representam industriários também sentiram os efeitos da retração. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, Assis Melo diz que 2015 ficou marcado como um dos anos mais difíceis da história recente em razão das demissões e do fim do pleno emprego. A prioridade em 2016, segundo ele, é manter o maior número de contratos possíveis, inclusive ampliando os acordos de flexibilização, se for necessário.
- Foi bem difícil para todos. Esperamos que em 2016 a economia se estabilize - diz Melo.
O problema é que as previsões para este ano não são animadoras. Nesta sexta-feira, o IBGE divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede oficialmente a inflação no Brasil. O indicador registrou alta de 1,27% em janeiro, a maior taxa para o mês desde 2003.
Fora isso, economistas do Itaú projetaram, em relatório do departamento de pesquisa do banco, também divulgado nesta sexta-feira, que a recessão tende a ser maior do que se previa - a economia brasileira, na avaliação deles, deve encolher 4%.
Apesar dos sinais negativos, Conceição evita fazer projeções pessimistas. Segundo o economista da FEE, o futuro da indústria vai depender dos rumos da política macroeconômica e dos impactos do câmbio sobre as exportações:
- O nível de produção já está tão baixo que é difícil piorar. Ao mesmo tempo, é complicado fazer qualquer previsão.
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Entre as empresas da indústria do Estado que fizeram investimentos em 2015, apenas 46,7% conseguiram concretizar os planos previstos para o ano. Apontado em levantamento da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), o resultado é pior da série histórica, iniciada em 2010.
Dos 216 empresários ouvidos, 70% afirmaram ter investido nos negócios no ano passado. Apesar de representar mais da metade dos entrevistados, o índice preocupa a entidade, por ser o mais baixo registrado pela pesquisa Investimentos da Indústria do Rio Grande do Sul nos últimos seis anos.
O estudo revelou que fatores como incerteza econômica (80,9% das respostas), reavaliação da demanda e elevada ociosidade (54,4%) foram os principais obstáculos. O custo do crédito também foi apontado como entrave por 35,3%.
- Por um lado, a situação econômica fez com que as linhas de financiamento se tornassem mais escassas. Por outro, a retirada de incentivos fiscais e os reajustes em insumos importantes para a produção, como energia elétrica e combustível, elevaram os custos do setor - diz o presidente da Fiergs, Heitor José Müller.
Para 50,4% das companhias, a efetivação dos projetos previstos para 2015 foi apenas parcial, enquanto que 2,2% adiaram ou simplesmente cancelaram planos.
Para 2016, a expectativa se mantém desfavorável. Ao todo, 40,1% não planejam fazer qualquer tipo de investimento. Os motivos para o recuo variam.
Em 92,6% dos casos, a incerteza econômica é apontada como a principal causa. Dificuldade para obter financiamento (27,2%) e aumento inesperado no custo previsto do investimento (12,3%) também apareceram nas respostas.
- A falta de uma perspectiva de melhora no quadro econômico do país leva ao adiamento dos novos projetos de investimentos - avalia Müller.
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