Economia

ZH Explica

Por que a gasolina é tão cara no Brasil? 

Com mais de 35% do valor em impostos, preço do combustível é composto ainda por outros três itens  

Jaqueline Sordi

Enviar email

Além de uma breve aliviada no bolso dos motoristas, o Dia da Liberdade de Impostos, ação que ocorreu nesta quarta-feira em diversas cidades do país, ajudou também os consumidores a entender um pouco melhor sobre o que pagam quando abastecem seus veículos.

Durante todo o dia, em uma ação organizada pelo Instituto Liberdade e o Instituto de Estudos Empresariais, o combustível foi vendido a R$ 2, o que corresponde ao preço da gasolina sem a cobrança de tributos – quase metade do valor cobrado atualmente.

Leia mais:
Motoristas esperam até 11 horas na fila por gasolina a R$ 2
Oito postos vendem gasolina por R$ 2 na Capital
Em março, gasolina e diesel tiveram novo aumento de preços no Estado

A alta tributação que está inserida no valor da gasolina no Brasil, conforme especialistas, é o principal motivo que leva o país a ser um dos mais caros do mundo quando o assunto é encher o tanque.

Conforme o último Levantamento de Preços e de Margens de Comercialização de Combustíveis, realizado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) em mais de 5 mil postos do país entre os dias 22 e 28 de maio, o preço médio do litro da gasolina era de R$ 3,66. No Rio Grande do Sul, a média chegou a R$ 3,88.

– O principal fator são os impostos, mas a explicação não para por aí. Diferentemente do mercado internacional, a Petrobras, que tem o monopólio, fixa os preços dos combustíveis de acordo com critério próprio e também do governo, que controla a empresa – explica o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, Samy Dana.

Atualmente, o valor da gasolina no Brasil está até 32% mais cara do que no mercado internacional. O argumento é de que, assim, a empresa evita transmitir volatilidade ao consumidor – o preço não sobe e desce o tempo todo.

O que o motorista está pagando?

O que pesa no bolso do consumidor ao encher o tanque é o custo de uma complexa cadeia. O primeiro passo é a gasolina pura que chega aos distribuidores vindo das refinarias – seja da Petrobras, de importação ou de empresas (desde 2002, a compra de combustível no Exterior foi liberada, e o preço passou a ser definido pelo próprio mercado).

O segundo passo é a adição de etanol à gasolina, o que passou, desde 2015, a ser uma obrigação legal. A mistura resultante, que é composta de 27% de etanol anidro, é a vendida nos postos.

Ao valor desta mistura são somados impostos e custos de transporte e produção. O resultado deste ciclo é o valor pago pelo consumidor final.

Qual o peso dos impostos no preço da gasolina?

Segundo a Petrobras, uma média de 37% do valor do combustível é referente a impostos. São 9% de impostos nacionais (Cide e PIS/PASEP e CONFINS), e 28% do ICMS, um tributo estadual. Neste ponto, destaca o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do RS (Sulpetro), Adão Oliveira, o Rio Grande do Sul aparece em desvantagem, uma vez que o imposto do Estado é o segundo mais alto do país:

– Isso faz com que a taxa tributária seja ainda maior para os gaúchos que compram gasolina, por causa do alto nível de endividamento do Estado, e uma falta de perspectiva em reduzir o ICMS. Em algumas cidades do Estado, o valor da gasolina chega a ultrapassar os R$ 4.

Se o preço do barril está em queda em todo o mundo, por que não diminui no Brasil?

Fato que tem chamado a atenção do mercado financeiro, a constante queda no preço do barril de petróleo – que em janeiro atingiu valores mínimos em quase 12 anos – não parece provocar reflexos no bolso dos motoristas brasileiros. A justificativa, explica o professor Dana, é o fato de a Petrobras ter passado a vender os combustíveis acima dos valores de referência internacional.

– Ao longo dos últimos anos, quando o valor do barril estava mais alto, o governo segurou muito o preço da gasolina. A Petrobras teria que vender por um valor maior para ter lucro e ser competitiva, mas o governo impôs que ela tivesse prejuízo e operasse com um custo menor do que deveria para evitar repasse à inflação.

Agora, com a queda nos valores mundiais, o preço se mantém acima dos padrões internacionais como um forma de "compensar" o desfalque dos anos anteriores.

Sendo um produtor de petróleo, o Brasil não deveria ter um preço inferior aos países vizinhos?

Nem mesmo quando alcançou a autossuficiência – feito comemorado pelo governo em 2006 quando a produção de petróleo equiparou-se ao volume de derivados consumidos à época no país – o valor da gasolina não chegou a baixar significativamente no país. Conforme o vice-presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), Rodrigo Tellechea, isso ocorre porque o Brasil nunca deixou de comprar petróleo de outros países:

– Grande parte do petróleo que temos aqui não é próprio pro refino ou o custo desse processo é muito alto. Então o Brasil acaba importando um produto de maior qualidade e exportando o petróleo extraído no Brasil para outras finalidades.

Além disso, conforme o professor Dana, o custo de extração da substância é mais alto no Brasil, já que o petróleo não está tão acessível como em outros países, sendo muitas vezes mais barato comprar de fora.

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Balanço Final

00:00 - 01:20