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O mercado de trabalho começa a dar sinais de reação no setor mais atingido pela crise. Apesar de o número de desocupados ainda avançar na Região Metropolitana de Porto Alegre devido à retração observada nos serviços e no comércio, a indústria registrou em agosto aumento no número de ocupados tanto em relação a julho quanto sobre o mesmo período do ano passado. Na comparação anual, é a primeira vez que isso ocorre em agosto desde 2011, ano que marcou o início da desaceleração da economia brasileira.
Divulgada na manhã desta quarta-feira, a Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA) mostra que, mês passado, a taxa de desocupação chegou a 10,7%, ante 10,4% da população economicamente ativa (PEA) em julho. Foi o terceiro avanço mensal consecutivo. O número total de desempregados foi estimado em 204 mil pessoas, mais 7 mil em relação ao mês anterior e o maior contingente desde 2009.
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Primeiro setor a perder fôlego, as fábricas somaram em agosto 297 mil pessoas ocupadas, 6,8% acima de julho e 4,9% a mais no cotejo com igual mês de 2015. Foi ainda o segundo mês consecutivo de aumento de mão de obra na comparação com os 30 dias imediatamente anteriores.
A economista Iracema Castelo Branco, coordenadora do núcleo de análise socioeconômica e estatística da Fundação de Economia e Estatística (FEE), avalia que o resultado é reflexo dos melhores indicadores apresentados pelo segmento no país nos últimos meses, ajudado pelas exportações.
– Na região metropolitana pode ter relação com a indústria calçadista, que é intensiva em mão de obra e, de janeiro a agosto, elevou o volume de exportações em cerca de 40% – observa Iracema.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, divulgados semana passada, são diferentes. As estatísticas, que englobam todo o Estado, ainda mostraram destruição de vagas formais na indústria de transformação em agosto. Mas, no ano, é o setor calçadista, com um resultado positivo de 4,6 mil vagas com carteira assinada, o segmento da manufatura com melhor desempenho.
O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, prefere a cautela em relação à possibilidade de o saldo continuar a crescer nos próximos meses.
– Não existe segurança para afirmar que este movimento seja sustentável ao longo do ano – adverte Klein.
Para o executivo, por questões sazonais a tendência será uma leve queda no emprego agora, com recuperação a partir do final do ano. Depois, vai depender da retomada da economia interna e do câmbio. A recente valorização do real, alerta, afeta a competitividade do calçado brasileiro no Exterior.
Outra atividade que em agosto melhorou em relação a julho foi a construção civil, mas o desempenho tem sido mais errático, nota a Iracema. A economista observa que, em agosto, a taxa geral de desemprego foi mais afetada pelo número de pessoas que ingressaram no trabalho em busca de colocação (4 mil) do que à redução nos ocupados (-3 mil), que beirou a estabilidade. A tendência para os próximos meses, entende a especialista, é o arrefecimento na redução do número ocupados. Se o desemprego aumentar, avalia, será por um número maior de pessoas da mesma família buscando colocação para recuperar a renda domiciliar.
O mercado de trabalho, entretanto, ainda deve demorar para mostrar uma reação mais forte em razão do quadro dos setores do comércio e serviços, prejudicados pela queda da renda, juro ainda alto e crédito restrito. Entre junho e julho, a massa de rendimentos reais dos ocupados diminuiu 1,6% e, dos assalariados, recuou 0,8%.
Entre os ocupados, caiu o contingente de pessoas com e sem carteira assinada, servidores públicos e empregados domésticos. Os autônomos foram os únicos que cresceram, tanto em relação a julho (6,3%) quanto na comparação com o mesmo mês de 2015 (4,5%).
Taxa de desemprego na região metropolitana em 2016
Janeiro: 9,7%
Fevereiro: 10,1%
Março: 10,7%
Abril: 10,5%
Maio: 10,2%
Junho: 10,3%
Julho: 10,4%
Agosto: 10,7%
Número de ocupados
Total
Agosto/2015: 1,773 milhão
Julho/2016: 1,701 milhão
Agosto/2016: 1,698 milhão
Indústria de transformação
Agosto/2015: 283 mil
Julho/2016: 278 mil
Agosto/2016: 297 mil
Construção civil
Agosto/2015: 126 mil
Julho/2016: 113 mil
Agosto/2016: 119 mil
Comércio*
Agosto/2015: 340 mil
Julho/2016: 320 mil
Agosto/2016: 318 mil
Serviços
Agosto/2015: 1,002 milhão
Julho/2016: 973 mil
Agosto/2016: 945 mil
*Inclui reparação de veículos automotores e motocicletas