
Considerado um dos aspectos que ajudaria a tirar o Brasil da recessão, a estabilidade política em torno do governo Michel Temer ganhou ameaça potencial com a prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Nos bastidores, a especulação é de que o deputado cassado, em um possível processo de delação premiada, possa comprometer Temer ou auxiliares mais próximos em casos de corrupção e, com isso, voltar a causar turbulência em Brasília.
Essa hipótese, caso venha a se materializar, teria o potencial de enfraquecer o governo e atrapalhar as negociações com o Congresso na votação de iniciativas relacionadas ao ajuste fiscal, como a reforma da Previdência, admite Paulo Picchetti, economista da FGV.
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Com o centro do poder no país voltando a trepidar, o risco em seguida seria um movimento mais brusco de alta do dólar, com impacto na inflação, o que poderia levar o BC a abortar o processo de redução da taxa Selic, o juro básico da economia, iniciado semana passada com o corte de 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano.
– Tudo o que possa vir a atrapalhar a agenda fiscal no Congresso, essencial para combater o déficit público, é risco e algo que atrapalharia a retomada da economia brasileira – afirma o economista Luiz Rabi, da Serasa Experian.
Embora classifique como "médio" o risco de instabilidade em Brasília por possíveis revelações do deputado cassado, Richard Back, analista político da XP Investimentos, avalia que não haveria tempo, por exemplo, para Cunha fazer acordo de delação ainda neste ano e, com isso, considera improvável tensão que atrapalhe a votação da PEC dos gastos.
Assim, a possibilidade de uma crise política causada pelo peemedebista cassado teria maiores chances de ocorrer se coincidisse com eventos como a eleição para a Câmara dos Deputados e a votação da reforma da Previdência, em meados do próximo ano.
– Se Cunha derruba um ministro importante, pode haver instabilidade – diz Back.
*ZERO HORA