
Com a intenção de passar uma mensagem de normalidade em meio ao acirramento da crise política, o presidente Michel Temer embarca nesta segunda-feira (19) para uma agenda de quatro dias na Rússia e na Noruega. Na pauta, a busca por comércio, investimentos e cooperação.
Enquanto na primeira parada a agenda será eminentemente econômica, na segunda ele deverá ouvir críticas a medidas aprovadas pelo Congresso, que reduzem áreas de preservação ambiental.
Temer resolveu adiar o embarque em algumas horas – de 11h30min para 14h30min. No Planalto, pela manhã, ele teria discutido a divulgação do vídeo, já gravado, em que fala sobre a viagem e também deve conter nova resposta contra as acusações feitas contra ele por Joeley Batista em entrevista à revista Época. Antes de embarcar, Temer ainda deve fechar as ações civil e penal que irá impetrar contra Joesley Batista, do Grupo JBS.
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Na Rússia, foco em acordos econômicos
Pelo cronograma, Temer chega a Moscou na terça-feira (20), quando participa de reunião com investidores russos.
Na quarta-feira (21), o líder brasileiro tem agenda com o presidente Vladimir Putin, além do primeiro-Ministro Dmitry Medvedev, o presidente do Conselho da Federação, Valentina Matvienko.
Temer anunciará em Moscou a entrada em vigor de um acordo que evita a dupla tributação entre os dois países.
– Esse acordo foi assinado em 2004, mas só passou no Congresso em maio – diz Diego Bonomo, gerente executivo de Comércio Exterior da CNI.
Temer também pretende assinar outro acordo, ligado a investimentos e facilitação de comércio. Os russos buscam equilibrar a balança comercial, historicamente favorável ao Brasil.
– Eles querem abertura do Brasil para trigo, peixes e frutas, para prosseguir abrindo espaço para carnes – afirmou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que está na Ásia, mas não acompanhará Temer.
Em 2016, o Brasil respondeu por 60% das importações russas de proteína animal.
Temer vai também "vender" projetos de concessão em infraestrutura. Os russos já indicaram interesse em operar a Ferrovia Norte-Sul, que deve ir a leilão em fevereiro. Serão ainda oferecidas oportunidades em óleo e gás, como as áreas de exploração de petróleo a serem leiloadas em setembro.
Na Noruega, foco em meio-ambiente
Temer chega a Oslo na quinta-feira (22), quando se reúne com investidores noruegueses. Na sexta (23), ele deve se encontrar com o rei Harald V, e com a Primeira-Ministra Erna Solberg. Temer também será também recebido pelo presidente do Parlamento, Olemic Thommessen, com quem deve discutir o avanço do desmatamento e a aprovação, pelo Congresso, de duas medidas provisórias que reduzem as áreas de proteção ambiental na Amazônia e aguardam a sanção presidencial.
A Noruega é a maior financiadora do Fundo Amazônia, que mantém 89 projetos de combate ao desmatamento, regularização fundiária e gestão territorial de terras indígenas. O país já aportou nele R$ 2,8 bilhões.
A estatal norueguesa Statoil tem investimentos em exploração de petróleo no Brasil e Temer também deverá oferecer a ela as áreas a serem leiloadas.
Mas, tanto lá quanto na Rússia, deverá ser questionado sobre a prorrogação do Repetro, programa que suspende a cobrança de impostos nos projetos de exploração de óleo e gás.
A Noruega integra, com a Suíça, a Islândia e o Liechtenstein, um bloco de livre comércio chamado Efta, com o qual o Mercosul negocia um acordo similar. A primeira rodada de entendimentos ocorreu semana passada, em Buenos Aires.