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Atropelamento

"Solitário" e "silencioso": quem era o autor do atentado em Nice

Nascido na Tunísia, Mohamed Lahouaiej-Bouhlel morava em um bairro popular de Nice, onde nesta sexta-feira autoridades fizeram buscas

AFP

Documento de Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, franco-tunisiano apontado como o autor do ataque na orla de Nice

Identificado a partir de um documento encontrado no interior do caminhão que atropelou uma multidão em Nice, no sul da França, Mohamed Lahouaiej-Bouhlel é descrito por vizinhos como um homem "solitário", "silencioso", violento com a sua ex-esposa e que não manifestava sua religião publicamente. Cidadão francês nascido na Tunísia, Bouhlel tinha 31 anos e morava na mesma cidade em que, na noite de quinta-feira, causou a morte de pelo menos 84 pessoas.

Informações de jornais locais afirmam que ele já possuía passagens pela polícia por roubo e condutas violentas. Nesta sexta-feira, agentes das forças de segurança francesas inspecionaram a residência onde Bouhlel morava, um apartamento de um prédio de quatro andares localizado em um bairro popular no leste de Nice. Segundo um vizinho do franco-tunisiano, Bouhlel não tinha a aparência de uma pessoa religiosa e frequentemente era visto de bermuda.

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Nascido em 31 de janeiro de 1985, em Msaken, subúrbio de Sousse (Tunísia), ele se casou com uma franco-tunisiana de Nice e era pai de três filhos, incluindo um bebê. O casal vestia roupas ocidentais, de acordo com todos os testemunhos colhidos pela AFP. O homem "nunca foi alvo de qualquer registro policial por radicalização", indicou nesta sexta-feira o procurador de Paris, François Molins.

Segundo o site do maior jornal de língua francesa da Tunísia, La Presse, ele deixou a Tunísia rumo à França em 2005. Bouhlel nunca frequentou a pequena mesquita localizada no norte de Nice, onde vivia com a esposa antes de se separaram, e bebia cerveja, de acordo com vários membros assíduos da Associação Religiosa de Nice Norte.

– Ele não é fiel a Deus, eu nunca o vi na mesquita – assegura um zelador do imóvel deste bairro, sentado no restaurante ao lado da sala de oração. Ao seu lado, três muçulmanos praticantes com longas barbas confirmam a informação.

Ele era, contudo, "conhecido da polícia e da justiça por ameaças, violência, roubo e vandalismo, em atos cometidos entre 2010 e 2016", de acordo com o procurador de Paris. Em 24 de março, ele foi condenado a seis meses de prisão com sursis por "violência voluntária com arma" cometida em janeiro, durante uma briga ligada a um acidente de trânsito, segundo um comunicado do ministro da Justiça.

"Muito violento com sua esposa"

Um morador do prédio Le Bretagn, onde o assassino morava no 12º andar, mas de onde foi embora há cerca de 18 meses, traça, por sua vez, o perfil de um homem desequilibrado.

– Eu não acredito de maneira nenhuma na hipótese de radicalização, prefiro pensar que se trata de um problema psiquiátrico – comentou. – Ele tinha crises. Quando se separou de sua esposa, ele defecou em todos os lugares, estraçalhou os ursinhos de pelúcia de sua filha e cortou o colchão – relatou o vizinho. – Sua mulher pediu o divórcio depois de uma discussão violenta – disse.

O vizinho relatou ainda que, um dia, Bouhlel chamou todos para vissem que a esposa "não havia lavado a louça". Ele acrescentou ainda que o acusado pelo atentado era fechado" e não falava uma única palavra no elevador.

Mais comedido, o zelador do prédio, que conhecia o casal, descreveu um homem que praticava musculação e luta, "muito violento com sua esposa", uma moça tímida e gentil, que cresceu no bairro. A jovem, que a polícia deteve nesta sexta-feira de manhã para interrogatório, tinha dado à luz seu terceiro filho após se divorciar do marido, de acordo com vários moradores.

Na farmácia do bairro, os funcionários ainda estão espantados, citando "um casal jovem e moderno" e descrevendo o marido como "alguém imponente". O homem era motorista e entregador. Uma dúzia de vizinhos entrevistados descreveram o homem como alguém "solitário" e "silencioso".

Um deles, Sébastien, contou que o via com frequência estacionar seu pequeno caminhão de entrega para almoçar em casa, geralmente vestindo shorts. Sua vizinha de porta, Alexia, disse ter falado com ele uma única vez. No andar de cima, uma grande família ressaltou que o jovem nunca retribuía seus cumprimentos.

Outra vizinha disse que falou apenas uma vez com ele, quando cortou um medidor elétrico errado. Uma família numerosa, que também vive no mesmo prédio, afirmou que o jovem nunca os cumprimentava. No térreo, um quarto vizinho disse que não confiava nele porque "olhava com muita insistência para suas duas filhas".

Uma operação de busca foi realizada nesta sexta-feira em sua última residência, localizada em um pequeno prédio de quatro andares em um bairro popular do leste de Nice, onde morava sozinho desde a separação do casal. A porta do apartamento do primeiro andar foi arrombada nesta sexta-feira, enquanto membros da polícia recolhiam pistas.

Relação com extremistas

Apesar da imprecisão das informações iniciais a respeito de Bouhlel, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, foi categórico ao afirmar que o tunisiano é "sem dúvida um terrorista ligado ao Islã radical".

– É sem dúvida um terrorista ligado ao islamismo radical de uma maneira ou de outra. Sim, foi um ato terrorista, e nós vamos buscar cúmplices – declarou Valls no canal de televisão France 2.

Presidente francês prorroga estado de emergência

O presidente francês, François Hollande, anunciou três medidas para tentar estancar a sequência de atentados que vem assolando a França. Segundo o chefe de Estado, será mantido o mais alto nível de segurança com a manutenção da Operação Sentinela, que permite ao governo movimentar 10 mil militares para combater ações terroristas.

– Nada nos fará ceder da nossa vontade de lutar contra o terrorismo. E continuaremos atacando aqueles que nos atacam em solo europeu _ disse Hollande.

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Conforme o presidente francês, há uma força tarefa para atender as pessoas feridas e as famílias dos 84 mortos. A inteligência policial concentra esforços em identificar possíveis cúmplices.

– O caráter terrorista não pode ser negado. É de uma violência absoluta. Está claro que devemos fazer de tudo para lutar contra a praga do terrorismo.

O ataque

Por volta das 23h de quinta-feira, um caminhão atropelou uma multidão na cidade de Nice, no sul da França. O ataque ocorreu durante uma festa com queima de fogos em comemoração ao Dia da Bastilha, celebrado no dia 14 de julho. De acordo com o governo, pelo menos 84 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. O ato é classificado como um atentado terrorista pelo governo local.

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