É possível esperar que os Estados Unidos respeitem os compromissos de defesa mútua assinados com seus aliados, mas um acordo comercial trans-Pacífico parece improvável, afirmou nesta segunda-feira a Conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice.
Em seus primeiros comentários públicos após a surpreendente vitória eleitoral de Donald Trump, a principal conselheira do presidente Barack Obama em política externa, disse à AFP que o peso da Presidência provavelmente moderará as posições do presidente eleito.
Durante a campanha, Trump sugeriu que os parceiros dos Estados Unidos não cumpriam com seus compromissos e que, consequentemente, Washington não devia se sentir obrigado a defendê-los, despertando preocupação em países que têm confiado na proteção americana durante décadas.
Mas em entrevista exclusiva à AFP, realizada nove semanas antes de Trump assumir a Presidência, Rice tentou aquietar estas preocupações.
"É claramente de interesse dos Estados Unidos que estas alianças perdurem, que sejam uma fonte de confiança para nossos sócios e que eles compreendam que não precisam sair do guarda-chuvas dos Estados Unidos", afirmou.
Embora tenha ressaltado que não quer especular sobre a política externa de Trump, Rice tentou tranquilizar aliados-chave dos Estados Unidos na Otan e na bacia do Pacífico, no sentido de assegurar que não serão abandonados.
"O peso deste gabinete, o peso da liderança global dos Estados Unidos e as responsabilidades que estes implicam, e a história que compartilhamos, os interesses que existem, tornam razoável para nossos aliados e sócios esperar que os Estados Unidos respeitem suas obrigações", declarou.
Durante a campanha, Trump sugeriu - embora logo tenha se retratado - que a Coreia do Sul e o Japão poderiam construir suas próprias armas nucleares para dissuadir a Coreia do Norte, estimulando o espectro de uma corrida armamentista na Ásia.
Ele também criticou reiteradamente as potências europeias, às quais acusou de não contribuir o suficiente para a defesa coletiva através da Otan, deixando nervosos os países do flanco oriental da Aliança Atlântica, preocupados com a atitude da Rússia.
O TPP, um desafio
Por outro lado, Rice admitiu que aprovar o controverso acordo comercial Trans-Pacífico agora é um "desafio", mas que continua sendo de interesse estratégico para os Estados Unidos.
O presidente Obama impulsionou o chamado Trans-Pacific Partnership (TPP), integrado por 12 países, mas Trump prometeu retirar-se dele, alegando que implicará uma perda de empregos nos Estados Unidos.
"O TPP é obviamente um desafio atualmente", disse Rice à AFP, advertindo que se não se chegar a um acordo, isto deixará um vácuo.
"O comércio não se deterá, continuará, seremos parte dele, mas não seremos tão capazes de estabelecer o marco que sirva aos nossos valores e aos nossos interesses", advertiu.
"Isso deixa um vácuo para que países como a China e outros ocupem, algo que não é do nosso interesse", afirmou.
Depois de uma estridente campanha presidencial anti-China de Trump, Rice defendeu a política do governo Obama de equilibrar as relações com a Ásia e seu compromisso com Pequim.
"Há realmente um valor nisso. Primeiramente, mais compromisso com a China, mais diplomacia, mais canais e discussões multifacetadas e frequentes, embora nem sempre isto pode significar progresso", disse a conselheira de Obama na entrevista com a AFP.
Trump ameaçou reiteradamente durante sua campanha iniciar uma guerra comercial com a China, país ao qual acusa de ser um inimigo dos Estados Unidos.
O presidente eleito se concentrava nesta segunda-feira na escolha de postos-chave de seu futuro governo, mas já causou polêmica com a nomeação de uma personalidade da extrema-direita como principal assessor.
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