
O tenente-general Gregorio Álvarez, último ditador uruguaio e presidente do país durante o regime que terminou em 1985, faleceu aos 91 anos, nesta quarta-feira. Ele foi vitimado por uma doença cardíaca.
Álvarez, apelidado de "El Goyo", foi um militar de carreira brilhante, ambicioso e calculista, que chegou de forma meteórica às patentes mais altas das Forças Armadas – gerando divisões que perduraram até o fim de seus dias. Preso em 2007 por atrocidades contra opositores, ele estava apartado de outros militares detidos pelos menos motivos, mas que o detestavam.
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Em 2009, Álvarez foi condenado a 25 anos de prisão pelo desaparecimento de 40 pessoas transferidas da Argentina durante seu mandato à frente do Exército. Ele sofria de demência senil.
Os militares o nomearam presidente por quatro anos, em 1981, dez meses após os cidadãos rejeitarem em um plebiscito um projeto de Constituição que garantia a continuidade do regime.
Nascido em 26 de novembro de 1924 em uma família de militares, foi o terceiro dela a se tornar general. Foi subindo rapidamente de patente e em 1971, com 45 anos, ganhou o título de general por meio de concurso. Ainda na democracia, o Congresso autorizou sua promoção.
Tupamaros
No complicado Uruguai do início dos anos 1970, o então general Álvarez liderou o combate à guerrilha urbana Tupamaros, na qual participava o agora ex-presidente José Mujica. Em uma democracia que fervia pela violência política, pelos protestos sociais e pela repressão, o tenente-general participou de negociações clandestinas com os Tupamaros sem que o governo de então estivesse ciente.
No dia 25 de junho de 1972, os Tupamaros assassinaram o irmão de Gregorio, o general Argias Álvarez. O fato marcou profundamente sua trajetória militar e política.
Álvarez teve um papel importante na gestação do golpe de Estado de 27 de junho de 1973. É considerado um dos redatores de pronunciamentos militares que tinham pontos de coincidência com alguns postulados da esquerda.
Sua verdadeira orientação política foi um enigma. Era considerado próximo ao Partido Nacional, uma força política tradicional que se converteu em um tenaz inimigo da ditadura e, em particular, de sua pessoa.
Como chefe das forças de segurança, Álvarez foi responsável por ações contra militantes de esquerda, que posteriormente se revelariam como brutais torturas, assassinatos e desaparecimentos, no âmbito do "Plano Condor" de coordenação repressiva das ditaduras do Cone Sul.
A forma de agir fez com que ganhasse a liderança em boa parte das Forças Armadas. No entanto, sua ambição pessoal também gerou inimizades porque as Forças Armadas uruguaias eram reticentes em personalizar o regime.
Em 1978, tornou-se Comandante-em-Chefe do Exército e assumiu a patente de tenente-general. No ano seguinte, passou à reserva por ter acumulado oito anos no generalato. Em setembro de 1981, os militares o nomeiaram presidente, substituindo o advogado idoso Aparicio Méndez.
Oposição
Durante seu mandato, iniciado em setembro de 1981, foi acusado de minar as negociações iniciadas pelos militares com os políticos para voltar aos quartéis.
Em 1983, o Uruguai registrava muitos protestos contra o regime, e "El Goyo" convocou a formação de um partido que defendesse os postulados do "processo" – eufemismo utilizado na época para se referir à ditadura. Não teve o mínimo eco. Para seu desgosto, a oposição foi ganhando as ruas com grandes protestos.
Inimigo dos políticos, preferiu renunciar antes de entregar o poder a Julio María Sanguinetti, líder do tradicional Partido Colorado que venceu as eleições de novembro de 1984 e que marcaram a restauração da democracia.
Álvarez deixou a Presidência em 12 de fevereiro de 1985.