O Senado argentino aprovou por unanimidade, na noite de quarta-feira, o uso da maconha com fins medicinais. A medida permite o acesso gratuito ao óleo de cannabis e outros derivados da planta por pacientes que estejam inscritos em um programa nacional de estudo e pesquisa do uso da maconha.
Aprovado em novembro passado pela Câmara dos Deputados, o projeto passou pelo plenário do Senado com 58 votos. A sessão teve a presença de um grupo de mulheres com filhos doentes, que choraram durante a sessão.
A iniciativa validada pelo Congresso da Argentina impulsiona a produção pública da maconha e permite importar o óleo para os pacientes com indicação médica. No entanto, a medida não inclui o cultivo pessoal da maconha, um pedido das famílias que tratam os filhos com o produto.
– O tempo nos deu a razão, é uma lei imperfeita, mas chegamos ao início – declarou Valeria Salech, da organização Mamá Cultiva, com a voz emocionada após a votação, enquanto outras mães se abraçavam e aplaudiam a notícia.
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A lei estabelece um marco regulatório para a pesquisa médica e científica do uso da planta medicinal, terapêutica e paliativa da dor, e deixa a cargo do Ministério da Saúde o fornecimento – de maneira gratuita – do medicamento aos pacientes com epilepsia refratária, autismo e outras patologias.
– É um sonho realizado, uma alegria imensa, porque isto vai dar alívio aos pacientes, seja qual for a patologia – disse María Laura Alasi, mãe de Josefina, uma menina de quatro anos que, aos sete meses, foi diagnosticada com síndrome de West, um tipo raro de epilepsia.
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Alasi, cuja filha sofria diariamente com dezenas de convulsões, indicou que "embora seja uma lei que não contempla o cultivo pessoal, e há muitas mães que estão cultivando, tenho fé que os senadores vão encontrar uma solução".
Ao defender o cultivo pessoal, a organização Mamá Cultiva advertiu que o óleo que deverá ser importado dos Estados Unidos é de uma única variedade e, por isso, só tem efeito em 20% das crianças em tratamento.
– Em todo o mundo o uso da cannabis medicinal é legal, e em pacientes que não respondem a tratamentos tradicionais as pesquisas demonstraram que respondem ao uso (da maconha) – destacou a pesquisadora e especialista em neurociência Silvia Kochen em sua intervenção, na terça-feira, na comissão da Câmara Alta.
O médico Marcelo Morante disse à imprensa, no Congresso, que a aprovação da lei "abre caminho para que a substância seja obtida através de uma fonte legal e para que haja um acompanhamento médico do seu uso, ou seja, abre a porta para a medicina 'cannabica'".
– A cannabis medicinal é a esperança para os pacientes que não têm respostas a nenhum tipo de medicação. Seu uso é uma mudança de paradigma que é um desafio no mundo – afirmou Ana García Nicora, presidente da Cannabis Medicinal Argentina (Cameda).
O Uruguai se tornou, em 2013, o primeiro país a aprovar uma lei que permite o cultivo de maconha para consumo próprio e a formação de clubes de cultivadores para plantar de forma cooperativa.
Desde então, vários países latino-americanos vêm avançando em legislações similares, enquanto a Colômbia, o Chile e o México aprovaram leis que autorizam o cultivo e uso da maconha com fins medicinais e científicos.
*AFP