
Manuel Antonio Noriega morreu na segunda-feira (29), aos 83 anos. Ditador que governou o Panamá entre 1983 e 1989, foi também agente CIA (órgão americano de inteligência) e caiu em desgraça após ser acusado de narcotráfico. Internado em um hospital desde março, após uma cirurgia devido a um tumor cerebral, era condenado e considerado um militar sem escrúpulos, manteve relações simultâneas com o narcotraficante colombiano Pablo Escobar, o líder cubano Fidel Castro e com outros vários serviços de inteligência. Foi de fiel aliado a inimigo dos Estados Unidos.
Em sua trajetória foram registrados casos de opositores assassinados, fortunas duvidosas, condenações por narcotráfico, uma invasão militar e denúncias repetidas de traição.
– O mais impressionante na vida de Manuel Antonio Noriega é que fez da instituição (militar) um instrumento, uma combinação macabra entre o crime e o narcotráfico – disse o general Rubén Darío Paredes, a quem o ex-ditador substituiu em 1983 na Guarda Nacional.
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Nascido na capital panamenha em 11 de fevereiro de 1934 em uma família humilde, Noriega abraçou muito jovem a carreira militar e governou o Panamá com mão de ferro entre 1983 e 1989. Depois de participar em 1968 em um golpe contra o presidente Arnulfo Arias, sua ascensão foi meteórica quando, um ano depois, o governante do Panamá, general Omar Torrijos, o nomeou para comandar o serviço de inteligência.
A suspeita é de que foi nesta época que a CIA, onipresente no Panamá para vigiar o canal de navegação, recrutou Noriega, que aumentou seu poder após a morte de Torrijos em 1981 em um misterioso acidente aéreo. Em 1983 assumiu o comando da extinta Guarda Nacional e iniciou seu governo de fato.
Este foi o seu período de glória, quando morava com a esposa Felicidad e as três filhas (Sandra, Lorena e Thays) em uma mansão luxuosa que incluía um mini zoológico, cassino privado e salão de baile. Em um contexto de guerras civis na América Central, atuou em várias frentes para permanecer no poder.
De aliado a inimigo dos EUA
De aliado fiel dos Estados Unidos, passou a ser considerado um inimigo vinculado ao narcotráfico após a chegada à Casa Branca de George H. W. Bush (1989-92), ex-diretor da CIA.
Em 1986, um vazamento da inteligência americana levou o jornal The New York Times a destacar o papel de Noriega no assassinato, em 1985, do opositor Hugo Spadafora, cujo corpo foi encontrado decapitado. Noriega, no entanto, sempre negou participação em crimes.
– Em nome de Deus, não tive nada a ver com a morte de nenhuma destas pessoas. Sempre houve uma conspiração permanente contra mim, mas estou aqui de frente, sem covardia – afirmou durante uma audiência.
O coronel Roberto Díaz Herrera, ex-comandante do Estado-Maior panamenho e segundo nome do regime, o acusou de corrupção, fraude eleitoral e do acidente que provocou a morte de Torrijos.
– Noriega deixa uma mancha escura. É muito difícil falar bem dele. Vitimou muitas pessoas, mas também foi vítima da CIA – disse Díaz Herrera.
As acusações provocaram protestos e um clima de instabilidade social, o que levou o governo dos Estados Unidos a exigir que abandonasse o poder, o que o general se negou a fazer de modo veemente.
Em 20 de dezembro de 1989, na operação conhecida como "Justa Causa", tropas americanas invadiram o Panamá para capturá-lo, o que provocou a morte de milhares de civis na última operação deste tipo de Washington na América Latina.
Depois de passar vários dias refugiado, Noriega se rendeu em 3 de janeiro de 1990 e foi levado prisioneiro aos Estados Unidos, onde foi condenado a 40 anos de prisão narcotráfico. O ex-ditador cumpriu apenas 21 anos por "bom comportamento".
Noriega foi extraditado para a França em 2010 e condenado a sete anos de prisão por lavar US$ 3 milhões em bancos franceses para o Cartel de Medellín.

Noriega foi extraditado a seu país em 2011. Ele chegou ao Panamá de cadeira de rodas, enfermo e "sem ódios nem rancores", como afirmou, para cumprir três penas de prisão de 20 anos cada pelo desaparecimento de opositores.
Apesar de ter solicitado perdão e ter sofrido vários derrames cerebrais, complicações pulmonares, câncer de próstata e depressão, as autoridades panamenhas negaram todos os pedidos de prisão domiciliar. Sua filha Sandra afirmou que a vida de seu pai "não entra em um livro".