Filas intermináveis nos postos de gasolina, supermercados com prateleiras vazias e escassez de água: os moradores de Miami corriam nesta quarta-feira para se abastecer antes da chegada do potente furacão Irma, que deve atingir a costa da Flórida no fim de semana.
No norte da cidade, policiais vigiavam um supermercado para evitar brigas entre clientes frustrados. Muitos saíam com o carrinho cheio de água mineral, pão e outros produtos de primeira necessidade.
"Só comprei água, gelo e alguns produtos secos. Temos um gerador e estamos nos preparando um pouco", diz Cecily Robinson na saída de uma pequena mercearia que já ficou sem água engarrafada.
"Sobrevivi ao furacão Andrew em Miami, ao furacão Katrina, ao furacão Wilma, e tenho fé em Deus e me preparo bem, mas não estou preocupada", afirma.
O pedido do prefeito para que os residentes estocassem rapidamente água e comida suficientes para três dias provocou falta de produtos.
"Está muito difícil desta vez, não tenho água, não tenho nada, não tenho pão... as pessoas estão loucas, é realmente difícil", comenta outra cliente, Evelyn Olmedo.
Alguns motoristas tiveram que esperar horas para abastecer seus veículos, enquanto as autoridades ordenaram a suspensão da cobrança de pedágios nas autopistas para acelerar o tráfego que avança em direção ao norte.
As autoridades ordenaram a evacuação dos residentes das Florida Keys, o turístico arquipélago do estado que Irma deve atingir primeiro, de acordo com as previsões.
Ao menos 25.000 pessoas já abandonaram a área, disse o governador da Flórida, Rick Scott, que espera que as saídas aumentem à medida que Irma se aproxime.
"Este é o meu primeiro furacão, tenho amigos que estão aqui há 20 ou 30 anos e estão preocupados, então eu também estou", aponta David Amendt, que vedou as portas e janelas da sua casa em Key West com placas de madeira e chapas de metal.
"Não há dúvidas, amanhã vou embora, com certeza", diz.
- "Rimos para não chorar" -
Irma, um furacão de categoria 5, a mais alta na escala que mede estes fenômenos, já causou danos materiais "importantes" nas ilhas de São Bartolomeu e São Martinho no Caribe, após tocar terra na ilha de Barbuda.
Descrito como "potencialmente catastrófico" pelo Centro Nacional de Furacões (NHC), o Irma ameaça Porto Rico, Haiti e Flórida com rajadas de vento de 280 km/h.
Sua chegada ocorre apenas duas semanas depois do Harvey, que atingiu o Texas e a Luisiana provocando inundações maciças.
O prefeito de Miami, Carlos Giménez, ainda não ordenou a evacuação de zonas costeiras densamente povoadas, como o centro turístico de South Beach, famoso por seus bares, restaurantes e discotecas.
Irma, que não é esperado na Flórida antes de sábado, "freou um pouco" seu avanço em direção à costa atlântica, explicou. "Amanhã (quinta-feira) teremos uma imagem mais clara", acrescentou.
No entanto, a prefeitura estabeleceu quatro centros de abrigo em zonas de risco, com capacidade para 8.000 pessoas.
O estado de emergência também está em vigor em todo o território da Flórida e foram convocados 1.000 agentes da Guarda Nacional. Outros 6.000 membros do corpo devem se apresentar antes da manhã de sexta-feira.
A Flórida está "se preparando para assegurar que as famílias estejam a salvo", disse o governador Scott, afirmando que Irma é um furacão "maior, mais rápido e mais forte que o furacão Andrew", que devastou o estado em agosto de 1992.
"Sabemos que estamos em uma zona de perigo, devemos esperar o pior e rezar pelo melhor", disse o senador da Flórida Marco Rubio.
Eugenia Sanchez, uma cantora de 46 anos natural de Valencia, na Espanha, tremia enquanto recebia sacos de areia que estavam sendo distribuídos em Miami Beach em prevenção a inundações.
"Estamos assustados porque não sabemos o que estamos enfrentando. Vou compor uma música que diga 'Irma, me abandone'", diz, rindo. "Rimos para não chorar".
* AFP