Os neandertais ainda vivem. De certa forma. Estudo publicado na revista científica Science concluiu que populações de fora da África, de origem europeia e asiática, têm de 1% a 4% de DNA herdado dessa espécie extinta há cerca de 30 mil anos.
Depois de quatro anos, uma equipe internacional de pesquisadores liderado pelo Instituto Max Planck, na Alemanha, fez o sequenciamento genético do homem de Neandertal e o comparou com cinco humanos contemporâneos da África meridional e ocidental, França, China e Papua Nova Guiné. Esse sequenciamento é baseado na análise de cerca de 1 bilhão de fragmentos de DNA extraídos de diversos ossos fossilizados de neandertal encontrados na Croácia, Espanha, Rússia e Alemanha.
- Podemos dizer que provavelmente ocorreu transferência de genes (acasalamento) entre o homem de Neandertal e os humanos modernos - diz Richard Green, professor de Engenharia Biomolecular da Universidade da Califórnia e um dos autores do estudo.
Segundo os pesquisadores, esse cruzamento deve ter ocorrido entre 60 mil e 80 mil anos atrás, depois que os primeiros Homo sapiens saíram da África, berço da humanidade, e encontraram neandertais no Oriente Médio. O fato de os genes do neandertal aparecerem no genoma de indivíduos de origem europeia e asiática, mas não entre os africanos, sustenta essa hipótese. Além disso, não foi encontrado nenhum gene de Homo sapiens no genoma de neandertal sequenciado a partir do DNA extraído de três ossos fossilizados provenientes da caverna Vindija, na Croácia, e que datam de 38 mil anos. O neandertal é considerado o primo mais próximo dos humanos, com um genoma idêntico em 99,7%.
- Aqueles que vivem fora da África carregam um pouco do DNA do neandertal - diz Svante Päabo, diretor do Departamento de Genética Evolutiva do Instituto Max Planck.
A meta científica principal é estudar as diferenças entre as duas espécies. E, com isso, obter pistas sobre o que permitiu ao Homo sapiens se tornar a espécie dominante do planeta.
Herança atual
- Algo entre 1% e 4% do genoma de uma pessoa é pouco? Segundo antropólogo John Hawks, é o mesmo legado hereditário que um tataravô deixaria para você. A diferença é que, no caso dos neandertais, isso persistiu após 1,5 mil gerações, e não de cinco. É como se, entre quase 7 bilhões de pessoas vivas hoje, houvesse 50 milhões de neandertais por aí.