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Na semana em que completa dois meses, está para ser concluído o inquérito policial que apura as responsabilidades de um dos mais brutais acidentes ocorridos neste verão no Litoral.
No amanhecer de 1º de janeiro, uma colisão entre três veículos, na Estrada do Mar, resultou em duas mortes, três feridos e perguntas cujas respostas estão sendo apuradas pela polícia. Na tarde de segunda-feira, após ficar 26 dias no Hospital Santa Luzia, em Capão da Canoa, uma das sobreviventes, a promotora de eventos Carine Bueno Flores, 25 anos, conversou com Zero Hora.
Ainda sofrendo dores provocadas pelos ferimentos, enquanto aguarda nova cirurgia, Carine disse acreditar na Justiça. Ela era carona no carro da bailarina Alaíde da Silva Linck, 28 anos, que morreu no Prisma que dirigia.
Ouça o depoimento de Carine
O acidente teria sito provocado pelo Vectra do suplente de vereador de Tramandaí Paulo Afonso Corrêa Júnior, dirigido pela modelo Tatieli Costa, 27 anos, que não tem carteira de motorista e tinha sinais de embriaguez. Ambos foram presos em flagrante e respondem a inquérito em liberdade. Corrêa depôs na última sexta-feira. Tatieli deve depor nesta semana.
Advogada da dupla, Kelly Menezes, disse que não irá se pronunciar a respeito das declarações de Carine. O encarregado do caso, o delegado João Henrique Gomes, não quis falar. Só adiantou que pretende concluir o inquérito até o final do mês. A outra vítima foi o taxista Ivo Ferrazo, 63 anos, que tripulava um Corsa. Confira trechos da entrevista de uma hora concedida por Carine Bueno Flores a ZH:
Zero Hora - O que aconteceu no amanhecer de 1º de janeiro?
Carine Bueno Flores - Por volta das 6h, eu, a Alaíde e outras quatro amigas saímos do réveillon. Iríamos passar o dia na casa de uma delas, em Capão da Canoa. Saímos em três carros, eu e Alaíde estávamos em um. Estávamos felizes.
ZH - O que aconteceu minutos antes do acidente?
Carine - Só lembro que depois do acidente ouvi a voz dela pedindo socorro. Não lembro da batida.
ZH - Sua amiga bebeu?
Carine - Ela não bebeu.
ZH - Quando soube o que houve?
Carine - Uma semana depois. Perguntava por ela e ninguém respondia. Quando sai da UTI, minha amiga Flávia (Flávia Silva), contou o que havia acontecido. Já tinha ideia de alguma coisa de ruim, porque ninguém falava nada. A confirmação de que tinha acontecido o pior fez desabar o meu mundo. Éramos amigas. Um dia antes do acidente, era tudo alegria. Agora, ela está morta e o filho dela sem mãe.
ZH - Como se conheceram?
Carine - Foi no trabalho.
ZH - O que ocorreu após você saber da morte de Alaíde?
Carine - A dor dos ferimentos era brutal. Mas, quando a dor desaparecia, eu pensava nela. Comecei a me informar pelos jornais sobre o que havia ocorrido. Vinha à minha mente as conversas agradáveis que a gente havia tido. Era difícil acreditar.
ZH - Que ferimentos você sofreu?
Carine - Muitos. Estou com o braço esquerdo quebrado, vou precisar fazer nova cirurgia. Quebrei o joelho e o pé direitos. Também tive os intestinos perfurados e outros órgãos machucados. Ainda sinto muita dor.
ZH - Os suplente de vereador e a modelo tentaram entrar em contato com você?
Carine - Ninguém entrou.
ZH - Qual seu estado de saúde?
Carine - Estou confinada a uma cadeira de rodas até fazer a cirurgia. Pelo SUS vai demorar muito, preciso trabalhar para sustentar a minha filha.