Léo Gerchmann
Além do mistério sobre o desaparecimento de Édson Dullius Júnior, 19 anos, que estava na carona da S-10 causadora de um atropelamento coletivo no domingo, na ponte Giuseppe Garibaldi (que passa sobre o Rio Tramandaí), outro mobiliza a família de Marlene de Oliveira - sobrevivente da tragédia.
Quem é o homem que ajudou a cozinheira Neuza, 45 anos, a salvar Marlene, 65 anos, sua mãe? O acidente matou ao menos duas pessoas - Euclides Capellari e seu filho, Gilmar, que pescavam na ponte.
- Minha sobrinha está procurando por ele. Não sabemos nem o seu nome, nem de onde ele é. Foi uma alma boa que surgiu para nós e desapareceu sem deixar pistas. Queremos agradecer. Sem ele, eu não teria conseguido tirar minha mãe do rio - diz Neuza.
A família trabalha com duas hipóteses: o misterioso socorrista vive em uma das casas ribeirinhas ou veio de outro local para pescar - como, aliás, estavam fazendo Marlene e suas filhas.
Confira a entrevista concedida por Neusa Oliveira
Zero Hora - Como foi o atropelamento seguido do salvamento de sua mãe?
Neuza Oliveira - Minha mãe é fã de pescaria. Ela subiu na ponte, ela e minha irmã, além de mim. Minha irmã foi comprar refrigente. No que ela voltou, ficou ao lado da minha mãe e do senhor que faleceu. De repente, a gente viu a caminhonete branca, que bateu atrás do carro preto e nos pegou de cheio. Minha mãe estava de frente para o carro, foi empurrada para dentro da água. Minha irmã caiu para o lado, teve a perna estraçalhada, e eu caí por cima dela. E eu enlouqueci.
ZH - E sua mãe já na água?
Neuza - Sim, ela já lá caída. O carro empurrou ela.
ZH - E você a salvou. Como foi?
Neuza - Primeiro, eu fiquei procurando: cadê minha mãe? Cadê minha mãe? Eu não achava ela em lugar nenhum. Aí eu olhei e vi minha mãe sendo levada pela água. Aí, fui correndo, fiz a volta na ponte, desci no ponto mais baixo, entrei lá e puxei ela. Um homem me ajudou, nem sei o nome dele. Eu pedi ajuda para ele: "ai moço, me ajuda a arrastar minha mãe daqui, porque ela está morrendo". E minha mãe já estava desmaiada, com as duas pernas machucadas. E ele me ajudou.
ZH - E como você a pegou?
Neuza - Pegamos e afastamos ela dali. Levei minha mãe no colo.
ZH - Era profundo onde ela estava?
Neuza - Era fundo, tapava as taquaras.
ZH - E você sabe nadar?
Neuza - Sim, e o senhor que me ajudou também. Graças a essa alma, eu nem sei o nome dele. Quero saber o nome para agradecer. Minha sobrinha já está procurando por ele, não temos ideia nem de quem é nem onde mora. Foi uma rica de uma alma, que ajudou a mim e a minha mãe.
ZH - E qual é o seu sentimento por ter salvado a própria mãe?
Neuza - Nem sei o que dizer. Bah, é uma glória eu ter salvado minha mãe. Ela está ali, sob extremo cuidado, com uma perna cheia de ferros e a outra ainda aguardando para vermos o que ocorre. Estou o tempo inteiro aqui com ela.
ZH - Como será a vida dela a partir de agora?
Neuza - Ela mora sozinha, em Arroio dos Ratos. Mas agora vai ficar comigo, em Charqueadas. Agora, com isso aí, está louca da vida.
ZH - E o seu sentimento sobre o acidente?
Neuza - Só quero que esse homem que fez isso aí pague pelo que fez. Ele veio naquela velocidade, em meio a um monte de crianças.
ZH - Você costuma pescar ali?
Neuza - Não, foi a primeira vez que eu fui. Foi minha irmã que insistiu para eu ir lá, para conhecer o lugar. Se eu não tivesse ido, quem ia salvar minha mãe?
ZH - O que muda na sua vida, após esse episódio?
Neuza - Alguma coisa mudou, ainda não sei. Não quero que ninguém passe pelo que estou passando.