O Ministério Público denunciou 20 pessoas, entre elas dois policiais, por formação de quadrilha e comércio ilegal de armas na Região Metropolitana.
Composta por apenados, comerciantes, um investigador da Polícia Civil e um PM, a quadrilha agia como uma agência especializada em revender pistolas, revólveres, espingardas e munição de diferentes calibres para o crime organizado.
Promotores constataram que armas eram roubadas de empresas de segurança, furtadas de fábricas e desviadas de delegacias da Polícia Civil e de apreensões da Brigada Militar. Parte do armamento também era adquirida em países como Paraguai, Argentina e Uruguai.
A quadrilha funcionava como uma terceirizada do crime: fornecia chips e celulares para presidiários, falsificava documentos e placas de veículos e, principalmente, negociava armas ilegais e munições.
Entre os líderes do grupo há detentos que cumprem pena no Presídio Central, na Penitenciária Estadual do Jacuí e até na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas.
- As investigações revelaram que o policial civil repassava à quadrilha armas apreendidas pela equipe da DP. Também fazia isso com armas que eram recolhidas e não eram registradas - explica o promotor André Luís Dal Molin Flores, que assina a denúncia formalizada à Justiça.
O descontrole de armas em DPs foi abordado em ZH nove dias atrás. Um relatório do Controle Externo da Atividade Policial, feito pelo Ministério Público e obtido com exclusividade pelo jornal, revela que, em 2010, havia 870 armas nas delegacias de Porto Alegre.
Pelo menos duas centenas delas eram mantidas "no interior de um baú de madeira trancado com um cadeado". Os promotores identificaram 102 "sem vínculo a inquéritos ou ocorrências policiais" (não era possível saber por que estavam lá) e 106 que "não tinham destino conhecido" (podem ter desaparecido, portanto).
Soldado e inspetor chegaram a ser presos
Denunciados por Dal Molin, o soldado Cledson Roberto Peixoto da Silva, lotado no 26º BPM de Cachoeirinha, e o inspetor Jorge Luís Machado Ferreira, da 3ª DP de Viamão, tinham sido presos em março pelas respectivas corregedorias. Com Ferreira foram encontrados quatro revólveres e uma espingarda sem procedência.
Segundo o MP, Cledson fazia uso da função de policial para comprar legalmente armas e munições, revendidas à quadrilha. Além dos dois servidores, foram denunciadas 10 pessoas envolvidas diretamente na organização do bando, cinco presidiários que foram flagrados contratando os serviços ilegais do bando e três outras pessoas encarregadas de fazer o meio de campo entre a quadrilha e os detentos.