Foram pelo menos três décadas de quase abandono. Dos anos 1970 até a segunda metade dos anos 2000, Pelotas - e toda a Região Sul - viveu uma época de poucos investimentos, muitas falências e recessão econômica, refletida em todos os setores. Mas a situação mudou desde a aposta no polo naval de Rio Grande e de políticas de incentivo à construção da casa própria. O reflexo é imediato: a cidade vive um boom também imobiliário.
Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis (Secovi) de Pelotas, Gabriel Souto Jr., o mercado está aquecido. A procura por imóveis cresceu nos últimos anos, dando o salto inicial em 2008 e alcançando o pico em 2010.
Na última década, a valorização dos imóveis pelotenses é vertiginosa. Em 2002, um imóvel tido como de padrão médio/alto custava, em média, R$ 150 mil. Hoje, está avaliado em torno de R$ 450 mil. Nos imóveis de padrão mais baixo, a diferença é ainda maior: de R$ 30 mil dez anos atrás, é encontrado atualmente por R$ 150 mil.
Em junho, um feirão imobiliário promovido pela Caixa Econômica Federal ofereceu seis mil imóveis em dois dias, na cidade. Pelo menos 600 negócios acabaram fechados, gerando uma movimentação de quase R$ 60 milhões. Grande parte dos negócios baseados no programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.
- Há muito não tínhamos em Pelotas uma oferta e procura tão movimentada. O aquecimento imobiliário é notório e mexe positivamente com a economia local - avalia.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) de Pelotas, Jacques Reydams, ainda há um vasto potencial a ser explorado na cidade e na região. As condições para a compra de imóveis estão cada vez mais atraentes e podem impulsionar ainda mais o crescimento do setor.
- Temos uma demanda reprimida ainda para reverter. Acredito em aumento de oferta - diz.
Condomínios em obras na Estrada do Laranjal
Reydams considera Pelotas uma cidade central na Região Sul. Por atrair para si praticamente todas as rodovias da metade inferior do mapa gaúcho, fixa-se como o acesso mais fácil e ágil para uma população estimada em 1 milhão de pessoas.
- Quem se instala aqui está mais próximo de tudo - aponta.
Souto Jr. acredita na continuação do aquecimento imobiliário na cidade. A aposta se dá pelos resultados do primeiro semestre de 2012, que mantém a tendência de grande procura por imóveis, com a diferença que o mercado possui mais ofertas.
Cerca de 900 imóveis novos estão sendo oferecidos na cidade. O número é considerado alto pelo Secovi e abrange todas as camadas da sociedade.
No caminho para as praias do Laranjal, na beira da Lagoa dos Patos, novos condomínios de alto padrão devem mudar o cartão postal da região. Os lotes estão praticamente todos vendidos e os terrenos estão sendo preparados para receber as obras. O Veredas Altos do Laranjal, um dos principais empreendimentos do entorno, terá infraestrutura de lazer e segurança. Os clientes são de alto padrão e garantem um investimento milionário. A área total do condomínio terá 35 hectares, e contará com salão de festas, clube conceito com cerca de 1 mil metros quadrados, praça central com cinco hectares, quadras de tênis, piscina térmica, praia balneável e ginásio poliesportivo. A liberação dos terrenos para construção das residências está prevista para abril de 2013. Durante a Fenadoce, em junho, os últimos 21 lotes que faltavam foram praticamente todos vendidos, dando mostras do potencial econômico da cidade.
- A cada passeio ou visita que fazemos, nos informam de novos investidores, de vários lugares do Brasil, apostando na nossa região. É um mercado com grande aceitação e boas oportunidades - comenta Reydams.
Empregos à vista
Há vagas em todas as funções da construção civil em Pelotas. De auxiliar de pedreiro a engenheiro, precisa-se de trabalhadores. Há mais casas e prédios a serem construídos ou reformados do que mão-de-obra disponível.
Assim, o salário desses profissionais também foi reforçado. Para competir com a realidade de outras empresas e até de indústrias ligadas à construção naval, paga-se cada vez mais para um trabalhador da construção civil.
O próprio Sinduscon incrementou o mercado da região, apresentando cursos de especialização em setores como marcenaria, carpintaria e outros.
- O resultado disso é que deixou de ser uma surpresa vermos mulheres ocupando lugares tradicionalmente masculinos, como pedreiro e mestre-de-obras - revela Reydams.
O fator Rio Grande
Centro dos investimentos da região, a vizinha Rio Grande também é vista como uma mola propulsora do crescimento pelotense. O polo naval instalado na cidade em razão da indústria offshore reflete em boas notícias também para Pelotas.
Reydams vê um aproveitamento local da situação rio-grandina. Para ele, por ser uma cidade tradicional na oferta de serviços, como restaurantes, atividades de lazer e comércio, Pelotas tornou-se um ponto de convergência também para quem optou por morar em Rio Grande, atraído pela indústria naval. A proximidade entre as cidades (são cerca de 60 quilômetros de distância), a duplicação da rodovia que une os municípios (BR-392) e a facilidade de acesso ajudam nessa integração.
Já Souto Jr. discorda dessa visão. Para ele, outros fatores, alheios ao investimento na indústria naval, motivaram o crescimento imobiliário pelotense. O presidente do Secovi diz que as linhas de crédito destinadas ao mercado imobiliário, a redução da taxa de juros, a liberação de crédito para famílias de média e alta renda, a desburocratização do crédito e programas públicos incrementaram o setor em todo o país. Mais especificamente em Pelotas, a baixa oferta de imóveis e o grande volume de capital concentrado em bancos fizeram com que, quando o mercado financeiro deixou de ser tão rentável, esse dinheiro migrasse para o investimento imobiliário.
- Como a oferta era muito baixa, os imóveis disponíveis esgotaram-se rapidamente, escasseando o produto. Logicamente, os preços foram majorados pela lei da oferta e procura. Acredito que o polo naval tenha apenas dado visibilidade à nossa região, abrindo caminho para que grandes empresas olhassem para o nosso mercado em expansão. Mas não acredito que, mesmo com o número de pessoas que vieram trabalhar no polo naval de Rio Grande, ele fosse o motivo para aquecer o mercado de Pelotas na proporção que se deu - explica Souto Jr.
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