
Depois de uma estadia forçada de 49 dias em Aparecida (SP), Delmar Winck retornou para casa, em Portão, no último dia 9. Enquanto o filho mais velho permanece no interior paulista procurando pela mãe, o aposentado faz contatos por telefone com hospitais e asilos no Rio Grande do Sul e em outros Estados.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida nesta quinta-feira, ao final do encontro com o vice-governador, no Palácio Piratini.
Zero Hora - Como o senhor avalia a reunião?
Delmar Winck - Excelente. Saio daqui com grande esperança de encontrar uma solução. Vi muito interesse de parte das nossas autoridades, bem diferente do que vi em outros lugares. Acredito seriamente que vamos ter uma solução para o nosso grande problema bem logo.
ZH - O que o senhor acredita ter acontecido com a dona Beatriz?
Winck - Ela estava esperando enquanto fiz a minha compra. Ou saiu caminhando, ou alguém passou por ela e arrancou a bolsa, e naquele momento ela deve ter perdido um pouco a memória. Sem documento, sem memória, como vai se achar? Se sentiu perdida, deve ter saído a caminhar. Olhei para tudo que foi lado e não mais a vi. Já estava avançando a noite, se preparava um temporal, e ali ela se perdeu.
ZH - A polícia de Aparecida tem se dedicado ao caso?
Imagem de Beatriz Winck / Foto: Arquivo pessoal

Winck - Muito pouco. Não sei se tem muito serviço e pouca gente para trabalhar... Prestei depoimento, fui momentaneamente bem atendido. Depois me perguntavam: "Já tem alguma novidade?" Eu dizia: "Pô, seu delegado, quem procura novidades sou eu". Eles estavam muito confiantes no nosso trabalho, na rua, com aquelas pessoas de boa vontade que nos acompanharam.
Delmar Winck (à esq.) conversou com o Beto Grill (centro) e Sérgio Augusto Bonfanti (à dir.) no Palácio Piratini / Foto: Tadeu Vilani
ZH - O senhor alega ter sentido pressão, ainda que sutilmente, por parte de dirigentes do Santuário Nacional e até da administração do primeiro hotel onde a família se hospedou, para deixar a cidade.
Winck - Havia pressão. Somos um incômodo. Tenho a impressão de que gostariam que já tivéssemos saído. Estamos pressionando, temos um fato negativo. Talvez pensassem que iria prejudiar o Santuário ou a própria cidade. (Nesta tarde, a assessoria de imprensa do Santuário informou que não havia ninguém disponível para comentar o caso. O proprietário do hotel também não deu retorno ao pedido de entrevista da reportagem.)
ZH - Quais são os planos da família para o Natal?
Winck - Não pensamos em nada. Não há clima. Beatriz era quem providenciava e coordenava tudo, tinha muito prazer em fazer esses encontros com os filhos e netos. Tinha troca de presentes, amigo secreto, assados. Não sei se alguém vai ter coragem de pensar nisso. Não me falaram nada, e eu também não quero mexer nisso. Daria a impressão de que a gente está festejando a ausência da mãe. Fiquei com a minha vida estragada. Não sei que rumo tomar, ainda não sentei para pensar, mas com certeza vou achar o caminho certo. Claro, tenho filhos e netos, mas me falta um pedaço.
Entenda o caso
- Beatriz Joanna Von Hohendorff Winck, 77 anos, e o marido, Delmar Winck, 82, partiram de ônibus para a segunda visita ao Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida em 20 de outubro. Chegaram a Aparecida, no interior paulista, no dia seguinte.
- O casal fazia compras em uma loja ao lado da catedral. Delmar se dirigiu ao caixa, enquanto Beatriz resolveu aguardá-lo na porta. Em poucos minutos, o marido concluiu o pagamento e se dirigiu à saída. Beatriz já não estava mais lá.
- João Carlos, um dos quatro filhos, chegou à cidade na segunda-feira, 22 de outubro, para auxiliar o pai nas buscas e continua na cidade até hoje. Familiares e voluntários percorreram 28 cidades de São Paulo e Minas Gerais e distribuíram quase 8 mil panfletos com a foto de Beatriz desde então.
- Uma lei de 1998, regulamentada agora por decreto do prefeito Márcio Siqueira (PSDB), procura tornar mais segura a viagem dos romeiros ao santuário. Hotéis que não fornecerem pulseiras plásticas de identificação aos hóspedes serão multados. Ao caso da gaúcha Beatriz Winck, soma-se o desaparecimento de outro idoso, ocorrido em setembro, que também continua sem solução. O objetivo da medida é permitir que os turistas que eventualmente se perderem no complexo religioso possam ser encaminhados mais facilmente aos locais onde estão hospedados.
