Foto: Arquivo Pessoal

Marte não tem homenzinhos verdes, mas pode ser habitado em breve por um punhado de homenzinhos verde-amarelos. Esse é, pelo menos, o desejo dos mais de 10 mil brasileiros que se alistaram no projeto de expandir a civilização humana - no caso, em sua versão com jeitinho e ziriguidum - para além dos limites de nosso planeta.
O grupo do Brasil é o quarto mais numeroso entre os 202.586 terráqueos que disputam um dos 24 bilhetes só de ida para colonizar plagas marcianas. Como os escolhidos precisam representar condignamente as conquistas de nossa civilização, a seleção final vai se dar por meio de um reality show.
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Batizado de Mars One, o projeto de colonização é comandado pelo engenheiro holandês Bas Lansdorp, que promete embarcar 24 desbravadores a partir de setembro de 2022. As vagas na espaçonave foram abertas a toda a população mundial. Os brasileiros não se fizeram de rogados. Somaram menos inscrições apenas do que norte-americanos, chineses e indianos.
A VIDA EM UMA CÁPSULA

A sobrevivência será possível graças às cápsulas construídas para suportar as condições climáticas do planeta vermelho. De início, 50 metros quadrados de área serão usados no cultivo de plantas comestíveis com técnicas como a hidroponia e o crescimento acelerado, com a ajuda de luzes led.
O QUE MOTIVA OS CANDIDATOS
Entre os candidatos a trocar de endereço para o quarto planeta a partir do Sol estão os engenheiros de Joinville (SC) Felipe Fruit, 30 anos, e Priscila Justus Hamad, 28 anos, namorados desde os tempos de faculdade. Foi ela quem soube primeiro, por uma reportagem, da possibilidade de deixar o emprego de gerente de atendimento à pessoa jurídica em uma agência da Caixa Econômica Federal para tornar-se exploradora da galáxia.
- Gostaríamos de ir juntos. Mas sabemos que é uma possibilidade remota. Vamos torcer um pelo outro, mesmo que isso signifique se separar. Mas não me inscrevi para desistir. É uma oportunidade única de realizar um sonho de infância e chegar onde ninguém chegou - diz Priscila.
Para Felipe, a grande motivação para abandonar as comodidades de uma vida com oxigênio na atmosfera reside em deixar o nome gravado na História - não só do planeta, mas do sistema solar. Ele acredita que o homem está tornando a terra inabitável e, por isso, é fundamental para a perpetuação da espécie a existência de uma rota de fuga para quando o apocalipse vier:
- Quero ser uma pessoa que vai fazer diferença no futuro. Alguém precisa ir até lá plantar a semente de uma nova sociedade e morrer pela causa.

EM ALGUNS ANOS, IDEIA SERÁ VIÁVEL
Se a missão der certo, a gaúcha Thais Russomano, coordenadora do Centro de Microgravidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), irá figurar na lista de agradecimentos dos idealizadores. Mestre em medicina aeroespacial e PhD em fisiologia espacial, Thais, de 49 anos, ouviu falar do Mars One e contatou os organizadores. Após conversas via Skype e um encontro com Lansdorp em Londres, ela tornou-se consultora da Mars One. Assim, deverá atuar desde o período de treinamento dos candidatos até a missão exploratória. Para ela, a ideia de colonizar Marte é viável, desde que se concentrem esforços científicos e financeiros.
Veja o vídeo promocional do projeto Mars One:
- O mundo detém conhecimento, tecnologia e dinheiro para muitas coisas. Em 1961, Kennedy (John Kennedy, então presidente dos EUA) disse que, até o fim da década, iríamos colocar o ser humano na Lua e trazê-lo de volta. Se, naquele tempo, uma década foi suficiente, hoje não vejo problema - afirma Thais.
ENTREVISTA: JOÃO CARLOS LEAL, jornalista
"PAI REMOTO"

Morador de Nova Friburgo (RJ), o jornalista João Carlos Leal se entusiasma com a ideia de uma viagem sem volta. Mesmo que, para isso, precise separar-se dos três filhos, com idade entre 12 e 24 anos.
ZH - Que características o habilitam a participar dessa jornada?
João Carlos - É um desejo. Não é um oba-oba, um arroubo juvenil. Já vivi muita coisa na Terra. Estou tranquilo em relação à experiência terrena. Meu filho menor vai estar bem crescido e eu, em uma idade legal. Estarei mais propenso a ficar satisfeito em ambientes confinados. Os jovens ficariam inquietos, pensando: "Puxa, o que foi que eu fiz com o resto da minha vida?".
ZH - E como a sua família está encarando essa possibilidade?
João Carlos - Primeiro, não levaram a sério. Depois, algumas pessoas faziam comentários do tipo: "Pôxa, vocês estão em crise para ele estar querendo ir embora?". Agora está mais tranquilo. Meu filho me tem muito mais do que tive o meu pai. Sou muito mais presente. Depois, vou estar disponível pela internet. Um pai remoto (risos).
ZH - Como você imagina a vida em Marte?
João Carlos - Não vai ser fácil, mas vai ser interessante. Um planeta inteiro para explorar, muita coisa para fazer.
ZH - Gosta da rotina de hoje?
João Carlos - Adoro. Eu era bem urbano. Minha família estranhou quando optei por uma vida rural. Já dei um passo em direção a Marte quando fui me isolando (risos). Saí de uma cidade com 7 milhões de habitantes, vim para uma vila com 3 mil.
ZH - Será que Marte é melhor do que tudo isso aí?
João Carlos - Melhor não. Não vou comparar o céu azul e os passarinhos que estão cantando aqui agora com Marte. Mas Marte é viver uma coisa diferente.
O QUE DIZEM OUTROS BRASILEIROS INSCRITOS
"Quero explorar novos horizontes e buscar o desconhecido. Quero ir a Marte por causa da minha paixão por conhecer outras civilizações e saber coisas novas. Participar da colonização seria maravilhoso."
Juan Rossi, 55 anos, músico, São Paulo
"O que me faz querer ir para Marte é que o universo e o desconhecido me fascinam. O que me faz perfeita para essa missão é que sou persistente, audaciosa e não desisto facilmente."
Graça Barreto, 61 anos, atriz, comediante e cantora, Rio de Janeiro
"Por que eu quero ir para Marte? Posso imaginar muitas respostas para essa pergunta. Eu teria a oportunidade de estudar a estratigrafia de Marte, sua estrutura geológica, se há água lá. Além disso, estou muito, muito interessado no planeta. Pode parecer estranho, mas Marte exerce atração sobre mim."
Felipe Elder, 21 anos, estudante de Geologia, São Paulo
"Quero participar dessa missão porque achei o projeto muito ousado. Acredito que para ser um candidato é preciso ter muita coragem, ousadia e determinação, e isso tem tudo a ver comigo."
João Inácio Barros Filho, 40 anos, Minas Gerais
"O projeto Mars One é a realização de um sonho e um grande passo na construção de um novo futuro para a humanidade. Ser um dos representantes desse marco histórico seria uma honra."
"Miguel Victor de Paiva, 20 anos, estudante de Mecatrônica Industrial, Ceará
"Meu sonho sempre foi fazer algo extraordinário.Quero fazer parte desse time de loucos e conhecer outro planeta, mesmo sabendo que não haverá volta. Quero me tornar um marciano."
Robério Neves, 40 anos, Rio de Janeiro
"Minha motivação é poder conhecer outro planeta, algo inédito até hoje, poder contribuir para este avanço tecnológico humano. Sou o cara certo para essa missão porque quero muito ajudar nisso."
Fernando Mendes Sanches, 21 anos, estudante de Engenharia Agronômica, Mato Grosso do Sul
"Sei que Marte é totalmente diferente do nosso planeta. As adversidades lá são grandes: tempestades de areia, areia muita fina, frio intenso, dificuldades de encontrar água. Mas é meu objetivo. Tenho presenciado vários avistamentos de Ovnis, inclusive a famosa noite dos Ovnis em São José dos Campos, em 1986."
John Erickson do Nascimento, 63 anos, Espírito Santo