
Canteiros de obras abertos mas sem operários nem máquinas: o cenário tem sido observado com preocupação pelos moradores nos locais onde estão sendo construídas as passagens de nível na Terceira Perimetral com a Rua Anita Garibaldi e com a Avenida Cristóvão Colombo, em Porto Alegre.
Para eliminar esses sinais de impasse, a prefeitura conta com a retomada dos trabalhos ainda em setembro - tipo de previsão que volta e meia não se cumpre, para angústia da vizinhança, já que no início de agosto esperava-se o recomeço da construção na Anita naquele mesmo mês.
Faz pelo menos 60 dias que um rochedo impede a continuação da obra da trincheira na Anita Garibaldi. O bloco foi localizado já com o canteiro aberto, durante as sondagens do projeto executivo - as verificações do projeto básico não captaram as formações rochosas. Um aditivo financeiro à obra está sendo detalhado para possibilitar a retomada. O período vago, porém, serviu para alimentar os receios de uma comunidade já ressabiada com uma obra que desde quando estava no papel já a desgostava. Há críticas à remoção de vegetais (120 árvores, além de 55 transplantes e 12 podas) e à eficiência da trincheira para resolver os congestionamentos na região.
- É uma obra sem obra. Estamos muito ansiosos para ter alguma informação de algum lado. Estamos pensando seriamente no que poderíamos fazer. Em dezembro, quando chegar o IPTU, vamos pagar integral? - questiona a professora aposentada Lourdes Toss, 59 anos, moradora da Anita.
A forma de eliminar o pedregulho é a principal fonte de preocupação na área. A aposentada lembra que em uma audiência em 30 de julho ficou acertado que a prefeitura informaria como seria o processo. Teme-se a liberação da detonação de explosivos, o que o coordenador técnico da Secretaria de Gestão, engenheiro Rogério Baú, garante ser impossível.
- Nunca consideramos o uso de explosivos, isso é proibido pela legislação. Faremos detonação a frio, com uma broca diamantada que faz um furo na rocha. No buraco se põe uma argamassa expansiva que fragmenta a pedra. E tão logo seja pactuado o aditivo financeiro, vamos marcar uma data para esclarecer a comunidade sobre a detonação - afirmou Baú.
A obra da Anita tinha custo previsto inicialmente em R$ 10,7 milhões. Com o aditivo, especulações apontam que o preço pode aumentar 25%. A conclusão é esperada para fevereiro ou março de 2014.
Engenheiro garante que não há rochedo na Cristóvão
Basta uma consulta ao importante Atlas Ambiental de Porto Alegre para observar que a chamada Crista da Matriz se prolonga desde o Alto da Bronze, no Centro Histórico, até o Morro Santana, passando pelas regiões da Anita Garibaldi e da Cristóvão Colombo. Quem alerta é o coordenador-geral do Atlas e professor do Instituto de Geociências da UFRGS, Rualdo Menegat.
- A escavação vai dar nos rochedos desse flanco norte da Crista da Matriz. São rochas graníticas gigantescas que chamamos de matacões. A desmontagem pode ser por forma mecânica, como martelos pneumáticos, mas é mais demorado. Mais rápido seria com explosivos, mas isso é um problema em áreas urbanas. Dependendo do que há em torno, pode rachar um prédio - salienta Menegat.
Moradores da Cristóvão têm o temor de que o desaparecimento dos operários tenha a ver com a descoberta de uma pedra gigante. O pensamento imediato é o risco de detonações de explosivos.
- Estamos preocupados com a segurança dos prédios - disse o médico Henrique Suksteris.
O engenheiro Baú não considera que a obra de R$ 12,5 milhões está parada, e a aparência de paralisação se dá porque o projeto executivo ainda está sendo detalhado. Ele garante que as sondagens apontaram a inexistência de qualquer pedregulho semelhante ao da Anita, e prevê a entrega da passagem de nível em maio de 2014. Menegat ressaltou que o Atlas poderia ter sido consultado previamente para se prever, até mesmo financeiramente, os trabalhos na região por onde passa a Crista da Matriz e evitar surpresas com a descoberta de rochedos. Baú discordou:
- Atlas é geografia. É um trabalho descritivo. Isso não é suficiente para a gente tomar as nossas decisões de engenharia. Por isso, a gente vai a campo. Para a engenharia, (a descoberta dos rochedos) não é uma novidade, é normal essa situação geológica vir a ocorrer posteriormente.
Outras obras também sofreram percalços
Apesar de que ainda constavam nos últimos meses na Matriz da Copa, a prefeitura não considera mais a maior parte das obras como necessárias para o Mundial, e solicitou a inclusão delas no PAC da Mobilidade. A administração municipal mantém apenas os projetos do entorno do Estádio Beira-Rio como essenciais para a realização da competição na cidade. Em todo o caso, as obras que ficaram de fora seguem nos planos para conclusão e, até lá, permanecerá o incômodo à população com os canteiros abertos.
Percalços já atingiram boa parte dessas obras. O andamento da construção da trincheira da Avenida Ceará foi prejudicado pelo subsolo com excesso de água e pela utilização de um equipamento de 22 metros de altura. O tamanho poderia prejudicar o movimento de aviões no caminho do aeroporto Salgado Filho. Uma negociação com as autoridades federais inclui a possibilidade de operar a máquina somente à noite.
Outra obra afetada por problemas externos foi a do viaduto da Avenida Bento Gonçalves. Um pedaço do terreno do Exército existente na área do viaduto trancou o trabalho. Conforme a prefeitura, a questão já foi resolvida com a aquisição do terreno. Mas há mais. Na Plínio Brasil Milano, é preciso desalojar uma revenda de veículos para construir uma passagem de nível. Para a duplicação da Voluntários da Pátria, há as exigências do Patrimônio Histórico. Nos corredores de ônibus, durante um tempo houve falta de areia.