Desembarquei na África do Sul em julho de 1994, dois meses após a posse de Nelson Mandela na presidência. Casas confortáveis em bairros tranquilos, jardins bem cuidados e passeios para observar animais selvagens faziam parte do universo das cinco famílias brancas de ascendência britânica que me hospedaram em Springs, cidade industrial e mineradora, distante 50 quilômetros de Joanesburgo.
Os efeitos da eleição de Mandela chegavam aos poucos, sem sobressaltos. Foram modificados o hino, a bandeira e nomes de províncias. As placas de trânsito já estavam traduzidas para meia dúzia de idiomas: além do inglês e do africâner - uma adaptação do holandês colonial -, o xhosa, o zulu e outras línguas nativas. Naquele momento, os negros tinham empregos como jardineiros, domésticas, mineiros e operários. Hoje, são eles os que ainda fazem esses trabalhos, mas também ocupam a maioria absoluta das funções públicas e fazem crescer a classe média.