
Entenda como funcionaria o suposto esquema, comandado pelo advogado Mauricio Dal Agnol de Passo Fundo. A Polícia Federal suspeita que o homem teria lesado 30 mil clientes que possuíam ações da antiga CRT e embolsado ilegalmente R$ 100 milhões. Ele é considerado foragido e é procurado pela Interpol, pois estaria nos Estados Unidos de férias quando a operação foi desencadeada.
1 - O escritório de advocacia captava clientes que tinham ações da antiga CRT. Conseguiam clientes tanto ligando para quem hoje tivesse uma linha Oi e falando dos seus direitos, fazendo reuniões em CTGs para chamar a comunidade ou fazendo contato com escritórios de contabilidade que oferecessem o serviço para seus clientes. Na maioria das vezes não era Dal Agnol que fazia captação de clientes, mas outros empregados espalhados pelo Estado, mas principalmente próximo a Passo Fundo e Bento Gonçalves. Ele tinha escritório em várias partes do Estado: Passo Fundo, Porto Alegre, Pelotas e Novo Hamburgo.
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2 - Todos clientes passavam uma procuração ao advogado de Passo Fundo, Mauricio Dal Agnol, que centralizava as informações.
3 - O escritório movia dois tipos de ações: coletiva e individual, mas os clientes não sabiam que eram movidas duas ações. O individual buscava rever os valores das ações da antiga CRT da telefonia móvel, enquanto o coletivo visava recuperar valores de linha fixa.
4 - No final dos processos, ao invés de repassar 80% do valor ao cliente e ficar com 20%, essa porcentagem era invertida, ficando o cliente com menos do que deveria por lei. Em cima dos 20% repassados, também eram cobrados honorários. Durante a operação, um documento apreendido resumia a fraude: "Obs. O cliente já recebeu dois processos do escritório e está satisfeito. Não é necessário efetuar o pagamento do processo. O valor do processo deverá ser rateado entre o Sr. Bellé e o Dr. Maurício".*
Edegar Teixeira Almeida, 67 anos, é vendedor de cachorro quente e seria uma das vítimas
Foto: Stéfannie Teles/Especial

5 - Para que tudo ficasse dentro da legalidade, a Polícia Federal suspeita que dois contratos eram assinados como se fossem apenas um, sendo um deles de honorários e outro de cessão de direitos, que parecia a segunda via do primeiro. Este segundo fazia com que o cliente concordasse com o valor repassado. Para convencer o cliente do valor, adulterava os documentos (alvará ou petição) e passava o menor valor. Às vezes, ainda repassava apenas a correção monetária da ação. "As vítimas geralmente eram pessoas humildes que acreditavam na palavra do advogado e se estavam recebendo R$ 15 mil estavam contentes e assinavam o que quer que fosse", conta o delegado Mario Vieira.
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6 - Como o advogado ficava com a procuração, podia pegar o dinheiro em nome do cliente. Depois de pegar o dinheiro, dizia para os clientes que a ação ainda não tinha andado. E como podia fazer o acordo que bem entendesse sem a presença do cliente, muitas vezes foi feito um acordo que levantou suspeitas: depois de julgado, havia um acerto entre a Brasil Telecom (antiga CRT) e Dal Agnol de receber apenas metade do que foi ganhado. A polícia ainda investiga essa relação.
Como proceder caso acredite ter sido vítima
A PF orienta que se a pessoa suspeite ter sido vítima, o ideal é pedir que o processo seja desarquivado e revisto.
Contraponto:
André Luis Callegari, advogado de Vilson Bellé, informou que sobre o documento prefere não comentar porque não teve acesso. Disse que Bellé não trabalhava com Dal Agnol, apenas indicava clientes. Já Mauricio Dal Agnol não foi localizado pela reportagem.