Vídeos dos depoimentos que embasaram a denúncia dos procuradores da República contra seis suspeitos de envolvimento com o atentado frustrado no Riocentro em 1981 foram revelados no domingo à noite no programa Fantástico, da TV Globo. Entre os denunciados estão cinco militares - inclusive três generais e um delegado.
Leia também: MPF denuncia seis pessoas no caso Riocentro
A apuração de crimes políticos feita pelo grupo Justiça de Transição se desenrolou por mais de dois anos. Naquela noite de 30 de abril, 20 mil pessoas estavam reunidas para assistir a shows em homenagem ao Dia do Trabalho no Rio de Janeiro quando uma bomba explodiu no estacionamento do Riocentro, matando o sargento Guilherme Pereira Rosário, do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-1).
Em seu depoimento aos procuradores, o então capitão Wilson Luiz Chaves Machado, parceiro do sargento na ação e dono do carro onde a bomba explodiu. Machado disse que sua missão era identificar pessoas que participavam do show, artistas ou público. Reiterou que sempre sustentou que tinha saído do carro juntamente com o sargento por alguns instantes, mas não falou se alguém poderia ter colocado a bomba no carro nesse período. Na época, a explosão foi tratada como um atentado contra os militares, tese agora questionada pelos procuradores.
Também foi revelada a gravação do depoimento de Mauro César Pimentel, dono do carro estacionado próximo ao veículo de Machado. Pimentel contou que, antes da explosão, viu Rosário mexendo em algo em suas mãos dentro do automóvel que explodiu. Disse ainda que, após o estrondo, foi buscar ajuda e quando retornou não encontrou Machado, que ficou ferido. No local, estava somente o corpo do sargento morto.
Os procuradores concluíram, com base nos depoimentos, que peritos foram ameaçados e provas suprimidas para que as investigações inocentassem os militares da responsabilidade pelo atentado. O major Divany Carvalho Barros admitiu que foi enviado ao Riocentro para recolher provas que pudessem incriminar o Exército e retirou objetos como pistola e granada do carro de Machado.
Em novembro de 2012, Zero Hora teve acesso exclusivo a documentos que revelaram, pela primeira vez, como o Exército se articulou para ocultar as explosões. Os arquivos, que continham 200 páginas e carimbos de "confidencial" ou "reservado", estavam em posse do ex-comandante do DOI-Codi do Rio de Janeiro, coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, assassinado em 2012, aos 78 anos, em Porto Alegre.
Crime não estaria coberto pela Lei da Anistia
A viúva do sargento morto na explosão, Sueli José do Rosário, também foi ouvida na investigação e contou que foi ameaçada por um homem identificado como Dr. Luís. Ele teria lhe dito que seria chamada para depor e deveria lembrar dos filhos antes de falar. Os procuradores ainda não identificaram quem seria Dr. Luís.
Para assegurar a abertura de processo junto à Justiça Federal, os procuradores argumentam que que as investigações produziram novas provas e que os crimes não estão cobertos pela Lei da Anistia, válida apenas para o período compreendido entre 1961 e 1979.