Cinco militares - incluindo três generais e um delegado - suspeitos de envolvimento com o atentado frustrado no Riocentro, em 1981, podem ser levados ao ao banco dos réus. Segundo informações do jornal O Globo, publicadas neste domingo, depois de quase dois anos de trabalho, os procuradores da República do grupo Justiça de Transição, responsável pela apuração de crimes políticos do regime militar, denunciaram seis envolvidos na explosão de uma bomba no estacionamento do Riocentro, que culminou na morte instantânea do sargento Guilherme Pereira do Rosário, do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-1). Naquela noite de 30 de abril, 20 mil pessoas estavam reunidas no local para assistir a um show em homenagem ao Dia do Trabalho.
Em novembro de 2012, Zero Hora teve acesso exclusivo a documentos que revelaram, pela primeira vez, como o Exército se articulou para ocultar as explosões. Os arquivos, que continham 200 páginas e carimbos de "confidencial" ou "reservado", estavam em posse do ex-comandante do DOI-Codi do Rio de Janeiro, coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, assassinado em 2012, aos 78 anos, em Porto Alegre.
Conforme O Globo, para denunciar o então capitão Wilson Luiz Chaves Machado, parceiro do sargento na ação e dono do carro onde a bomba explodiu, e os outros cinco acusados, os procuradores produziram 38 volumes de documentos e 36 horas de gravações de depoimentos em áudio e vídeo. Dos seis nomes, quatro nunca haviam aparecido como suspeitos. Um deles é o general reformado Edson Sá Rocha, chefe da Seção de Operações do DOI em 1981, acusado de ter defendido, um ano antes, um plano de explosão de bombas em outra edição do show do Riocentro.
Também são responsabilizados os generais reformados Newton Cruz, então chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) e indiciado no inquérito que reabriu o caso em 1999; e Nilton Cerqueira, ex-comandante da Polícia Militar fluminense; o major reformado Divany Barros, ex-agente do DOI-I; e o ex-delegado capixaba Cláudio Guerra. Ainda forma identificadas como autoras outras nove pessoas, mas todas estão falecidas.
Depoimentos inéditos sobre o caso confirmam as revelações que vieram à tona após a publicação da reportagem de ZH sobre os arquivos do coronel Molina, em 2012. Pela primeira vez em pouco mais de três décadas, segundo material de O Globo, o major reformado Divany Carvalho Barros, de codinome Doutor Áureo, da Seção de Operações do DOI em 1981, admite que foi ao estacionamento do Riocentro, onde estava o carro destruído pela explosão, com a missão de apagar provas que pudessem incriminar os militares como autores do atentado.
O primeiro inquérito aberto pelo Exército, em 1981, concluiu que os militares tinham sido vítimas do atentado, e não autores. Esta será a quarta tentativa de submeter Wilson Machado, hoje coronel reformado, a julgamento em Tribunal do Júri. Nas outras vezes, as decisões do Superior Tribunal Militar (STM) desqualificaram as provas ou entenderam que o caso estava coberto pela Lei da Anistia.
Para assegurar a abertura de processo junto à Justiça Federal, os procuradores Antonio Cabral, Andrey Mendonça e Marlon Weichert, que assinam a denúncia, argumentam que que as investigações produziram novas provas e que os crimes não estão cobertos pela Lei da Anistia, válida apenas para o período compreendido entre 1961 e 1979.