O Rio Grande do Sul viveu a maior onda de roubos com morte para o mês de fevereiro na história recente dos registros criminais.
Foram pelo menos 15 casos desde o dia 1º de fevereiro até sexta-feira, número sem parâmetros nas estatísticas para o período desde 1999. Em 2014, já são 23 vítimas.
O assalto com morte mais recente foi o do motorista de lotação José do Carmo, 53 anos, morto na noite de quinta-feira dentro do veículo durante tentativa de assalto na Avenida Carlos Barbosa, no bairro Medianeira, em Porto Alegre. Os dois suspeitos fugiram sem levar nada do motorista, mas a polícia classifica o crime como latrocínio - além da intenção de assaltar o motorista, depois do ataque, eles roubaram a moto de um entregador de pizzas.
Três dias antes havia morrido o publicitário Lairson José Kunzler, 68 anos, baleado no carro ao entrar no condomínio onde vivia, na zona sul da Capital, porque transportava um malote com mais de R$ 40 mil, cobiçado por dois assaltantes. Os assassinatos ajudaram a espalhar uma sensação de medo. Mas não é só impressão de que a violência aumentou. Os números comprovam a arrancada das mortes.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) só considera confiáveis as estatísticas tabuladas a partir de 2002. Mesmo assim, ZH obteve os dados de 1999 a 2001, que, apesar de desprezados pela SSP por misturarem ocorrências da Brigada Militar e de delegacias da Polícia Civil, também ficaram distantes do auge de latrocínios ocorrido em fevereiro de 2014.
A marca de 15 casos em fevereiro pode ser vista como uma migração momentânea para o roubo, opina o titular das Delegacias de Polícia Regionais da Capital, delegado Cleber Ferreira. Também pode ser a falta de policiamento nas ruas, o amplo uso de armas nos assaltos ou a reação das vítimas. Motivos não faltam.
- Nos preocupa esse tipo de delito. Por isso, sempre pedimos prioridade aos delegados - argumenta.
Um ingrediente de última hora que pode estar engrossando a receita do crime é a impunidade a pequenos infratores, lembra o psiquiatra Luiz Carlos Illafont Coronel, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e com décadas de experiência na direção de instituições como o Hospital Psiquiátrico São Pedro e o Instituto Psiquiátrico Forense. A passividade da Brigada Militar diante de quem depreda patrimônios públicos e privados, por exemplo, reforçaria esse clima porque desmoraliza o policial.
- Quando o aparato repressivo não reprime quem está transgredindo, a vocação da Brigada está sendo contrariada. As pessoas veem que não tem problema depredar - analisa.
Publicitário Lairson Kunzler foi morto na porta do condomínio em que morava
Foto: Léo Cardoso