
As redes estadual e municipal de ensino só devem voltar a funcionar na segunda-feira em Faxinalzinho, pequena cidade agrícola no Norte do Estado. As aulas foram interrompidas na última segunda, quando os índios caingangues bloquearam com toras de madeira as estradas do município, protestando contra a demora na demarcação de uma área de 2,7 mil hectares que disputam há 12 anos com os agricultores.
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Na noite de segunda-feira, os indígenas mataram a tiros e a pauladas dois colonos, os irmãos Alcemar Batista de Souza, 42 anos, e Anderson Souza, 26 anos, que tentaram furar o bloqueio. Os índios desbloquearam as estradas ao meio-dia de ontem, e os dois colonos foram sepultados durante a tarde. No entanto, o clima ainda é tenso na região, assim como tem sido nos últimos 12 anos - desde que se instalou a disputa de terras entre indígenas e agricultores -, lembra o prefeito da cidade, Selso Pelin. Na terça-feira, o comércio, as escolas e a prefeitura fecharam em protesto pelas mortes dos agricultores.
- Hoje estamos voltando à normalidade, dentro da nossa realidade - descreve o prefeito.
O comércio voltou a funcionar, mas as aulas permanecem suspensas já que 90% dos 520 alunos (370 da rede estadual e 150 da rede municipal) dependem do transporte escolar que é fornecido pela prefeitura através de três ônibus e cinco Kombis.
- Antes de colocar a frota a rodar, precisamos ter certeza que as estradas estão seguras. Devemos retomar o transporte na segunda-feira - acrescentou Pelin.
Os dias parados deverão ser recuperados nas escolas municipais e estaduais, afirmaram a supervisora de Educação da prefeitura, Maria Morandin Dertneck, e a diretora da maior escola estadual da cidade, Elisabete Groth Perazel.
A Brigada Militar continua com efetivo reforçado na cidade e na região. Há pelotões em prontidão nas cidades vizinhas, informa o capitão Mauri José Bergamo, do 13º Batalhão de Polícia Militar (BPM).
- A situação está se encaminhando para a normalização - avalia o capitão.
Na área indígena, as lideranças da tribo estão conversando sobre os próximos passos que deverão ser dados para pressionar o governo a resolver a disputa de terras entre índios e agricultores.
- O que aconteceu aqui, a morte dos dois colonos, foi uma fatalidade que poderia ter sido evitada se essa e outras disputas por terra que existem no Rio Grande do Sul já tivessem sido resolvidas - afirma o cacique Deoclides de Paula, 42 anos.
O cacique disse que o que irá ocorrer em Faxinalzinho dependerá da sensibilidade do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em relação à disputa da terra.