A canonização de José de Anchieta, feita sem a comprovação dos milagres, seria uma forma de se colocar a santidade mais próxima dos homens, de acordo com o padre Luiz Fernando Medeiros Rodrigues, professor do Programa de Pós-Graduação em História da Unisinos.
Zero Hora - Como o senhor vê a decisão do papa Francisco de canonizar Anchieta sem a comprovação dos milagres?
Luiz Fernando Medeiros Rodrigues - Acho que o Papa atual está mudando um pouco os critérios com os quais se julga a santidade. Se antigamente o critério era ter dons extraordinários, talvez o de hoje seja estar no dia a dia empenhado na vida ética e comprometido com os mais frágeis da sociedade, colocando a santidade mais próxima dos homens. Não quer dizer que o exame não seja rigoroso, mas não se dá mais tanta atenção à questão do extraordinário e se mostra uma pessoa inserida no seu mundo, capaz de falar de Deus por meio de sua ação cotidiana.
ZH - Que características do padre José de Anchieta o colocaram como figura de destaque no Brasil Colônia?
Medeiros Rodrigues - Ele era um homem com fragilidade de saúde e fortaleza intelectual e de espírito. Ele é não só um homem de ação, mas de ideias, capaz de colocá-las em prática. Foi um homem com grande capacidade de improvisação, no sentido de dar respostas coerentes e imediatas, focadas em problemas reais. E capaz de se fazer compreender. Anchieta tinha habilidade para o diálogo e o transporte intercultural, criou códigos rituais e de comunicação que os índios puderam perceber e reelaborar na cultura deles.
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