Com 1m80cm e 95 quilos, Jaerson (D) reproduz, a pedido de ZH, pose feita por homem (E) que matou Kunzler. Suspeito diz que é mais gordo que atirador
Foto: Reprodução/Diego Vara
Após 36 dias, o caso policial de maior repercussão no Estado em 2014 segue em aberto e recheado por ingredientes inusitados. Dois suspeitos já foram presos e soltos por insuficiência de provas, perícias ainda não surtiram resultados e até um raro testemunho anônimo registrado em tabelionato ajuda a embaralhar a investigação. O assalto que resultou na morte do publicitário Lairson José Kunzler, 68 anos, em 24 de fevereiro, foi gravado por câmeras do condomínio onde ele morava, em Porto Alegre. As imagens, porém, pouco ajudam. O criminoso aparece com o rosto oculto pelo capacete.
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O assaltante abriu uma porta do Civic da vítima e roubou R$ 44,2 mil, mas suas digitais seguem sem identificação. Três dias após o crime, agentes da 6ª Delegacia da Polícia Civil prenderam um homem cujas marcas de dedos foram deixadas na lataria do carro. Mas o suspeito teve de ser solto. Era o manobrista da garagem onde a vítima deixou o veículo. O caso voltou à estaca zero, e policiais passaram a procurar o assassino de Kunzler dentro das cadeias. O vídeo foi mostrado para quadrilheiros, que teriam apontado como suspeito Jaerson Martins de Oliveira, conhecido por se envolver em assaltos.
Ao mesmo tempo, a polícia encontrou o que chamou de testemunha-chave. Um comerciante disse ter visto o matador logo após o crime e identificou Jaerson por fotografias. O suspeito, que cumpria pena em regime semiaberto por assaltos, foi preso em 13 de março. A delegada Aurea Regina Hoeppel, da 6ª DP, se convenceu de que ele é o assassino. Mas advogados apresentaram um vídeo em que Jaerson apareceria trabalhando em uma loja de suplementos alimentares na hora do crime.
Jaerson acabou solto, e o inquérito foi devolvido à 6ª DP para novas investigações. O Ministério Público pediu à polícia que ouça oficialmente e identifique o comerciante que aponta Jaerson como suspeito. Só que isso se tornou um impasse. Segundo a delegada, a testemunha não quer "colocar a vida dela e da família em risco" e, por isso, não pretende mais falar.
O presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Estado, César Peres, diz que, após informar um crime, a testemunha tem o dever de comparecer às audiências. O promotor João Pedro de Freitas Xavier, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do MP, pondera que apenas a denúncia não basta, são necessárias provas colhidas a partir do depoimento:
- A jurisprudência admite que o processo penal ocorra a partir de denúncia anônima. Mas nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de testemunha.
O promotor Luciano Pretto, da Promotoria de Execução Criminal, entende que o juiz só dará validade ao depoimento depois de ouvir o comerciante em audiência:
- A fé pública do tabelião não vai suprir a necessidade do processo penal. É o princípio do contraditório. Se ela não quiser falar, o promotor não tem provas.
*Colaborou Mauricio Tonetto
AS VERSÕES
Foto: Reprodução

Polícia
- Relato de um comerciante que reconheceu Jaerson Martins Oliveira como sendo o criminoso ao visualizar 10 fotos de bandidos envolvidos com assaltos em saídas de banco.
- O comerciante disse que, logo após o assassinato do publicitário Lairson José Kunzler, estava passando de carro pela Avenida Cavalhada, onde ocorreu o crime, e viu um homem saltar da carona de uma motocicleta, de arma em punho, e tirar o capacete.
- A testemunha afirma ter parado o carro, pensando presenciar um sequestro relâmpago, mas foi xingado pelo homem que entrou no banco traseiro de um Scenic.
- O comerciante repassou essas informações à polícia, mas se negou a prestar depoimento formal. Registrou suas declarações em um tabelionato, mas evitou se identificar.
- O reconhecimento da testemunha e aos antecedentes de Jaerson - condenado até 2039 por dois roubos e um assalto com morte, também em saída de banco - levaram a polícia a acreditar que ele é o matador do publicitário.
Foto: Reprodução

Suspeito
- Jaerson Martins Oliveira nega qualquer envolvimento no assalto e morte do publicitário. Funcionário de uma loja de suplementos alimentares, em Porto Alegre, ele garante que estava no trabalho no dia e no horário do crime.
- Para tentar comprovar essa versão, advogados dele apresentaram à Polícia Civil imagens do circuito interno de TV da loja, que mostrariam Jaerson no serviço. O vídeo contém data e horário e será submetido à perícia para verificar a autenticidade. Jaerson apareceria carregando sacolas entre 12h23min5s e 12h24min17s no interior da loja no bairro Rio Branco, e a vítima foi atacada às 12h23min54s, no bairro Cavalhada, distante cerca de 13 quilômetros.
- Detento do regime semiaberto na Fundação Patronato Lima Drummond, onde dorme à noite e sai durante o dia para trabalhar, Jaerson tem bom conceito entre apenados e agentes, e é considerado um bom funcionário da loja.
- Além da perícia no vídeo, Jaerson afirma que exames comparativos de impressões digitais no carro da vítima comprovarão que ele não estava na cena do crime.
