Para três acusados, o desfecho judicial da fraude que desviou R$ 44 milhões do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) trouxe alívio e reparação. Por falta de provas, Francisco Fraga, Gilson Araújo de Araújo e Lenir Beatriz da Luz Fernandes foram inocentados pelo juiz Loraci Flores de Lima, da 3ª Vara de Justiça Federal de Santa Maria.
Deflagrado em novembro de 2007 pela Operação Rodin, da Polícia Federal, o episódio lançou o Estado em uma crise política que se estendeu até 2010. Na quinta-feira, a Justiça divulgou os nomes dos 29 condenados e revelou a identidade dos três absolvidos.
Ex-secretário de Governo de Canoas, Chico Fraga foi denunciado por extorsão, apesar de sempre ter negado envolvimento no caso. Ao saber da absolvição, chorou.
- Foi uma das melhores notícias da minha vida, depois do nascimento dos meus filhos. Sempre soube que seria inocentado, porque não havia nada contra mim. Agora está provado - disse Fraga.
Servidor do Detran à época, Gilson Araújo de Araújo perdeu o emprego e foi denunciado por formação de quadrilha, corrupção passiva e falsidade ideológica. Na sentença, o juiz destacou a "inconsistência acusatória" e concluiu que, "ainda que houvesse prova categórica demonstrando a associação do réu com os outros criminosos, (...) faltou a voluntariedade, ou seja, o dolo específico para o cometimento de crimes".
- A acusação foi feita pelo simples fato de que eu tinha contato com muitos investigados. Ou seja, toda a acusação teve base numa suposição - desabafou Araújo.
Defensor de Lenir Fernandes, o advogado Bruno Seligman de Menezes disse que ela preferia não se manifestar sobre o resultado.
Chico Fraga, ex-secretário de Governo de Canoas:
"Fui acusado sem provas. No fundo, havia uma conotação política por trás de tudo. Me usaram para atingir Yeda Crusius, que foi uma grande governadora. Fui esfolado por alguns deputados e sofri muito com a CPI. Passei todos esses anos angustiado. Tive a vida ceifada sem ter morrido. Quando soube da absolvição, nunca chorei tanto. Hoje me sinto uma pessoa feliz."
Bruno Seligman de Menezes, advogado de Lenir Fernandes:
"Lenir Fernandes sempre esperou por esse resultado, que não é uma surpresa, mas não tem interesse em falar sobre o assunto no momento porque ainda está muito abalada. Quer um pouco de tranquilidade para se resguardar."
Gilson Araújo de Araújo, ex-servidor do Detran:
"Não foi fácil passar por tantos anos de sofrimento. Mudou tudo na minha vida, e isso não se apaga de uma hora para outra. Fui demitido. Passei por dificuldades financeiras. Mas sempre tive confiança na absolvição. Provas nunca existiram e nunca existirão. Não conseguiram provar nada, porque não havia o que provar. O juiz foi muito claro na sentença, e finalmente estou recuperando minha credibilidade."
* Zero Hora