
No primeiro dia de mercado regulamentado pelo governo, os uruguaios do Chuy - fronteira sul com o Brasil - seguem sem saber como proceder em relação ao cadastramento e compra legal de maconha. A lei assinada pelo presidente Pepe Mujica determina que o controle da produção, da distribuição e venda da erva fique sob controle do estado, mas parece que as resoluções ainda não saíram de Montevidéu.
Portanto, moradores do Chuy ainda não percebem mudanças nas suas rotinas de consumidores. Há cerca de três anos, relata a lojista uruguia Nádia Dellapiaza, 23 anos, os policiais não incomodam quem fuma na rua - desde que não haja arruaça, ela diz.
- Então não deve mudar muita coisa. Apenas que quem tinha peso na consciência não precisa ter mais. Os policiais não podem dizer mais nada - afirma a jovem, que quando morava do lado uruguaio tinha um pé da planta no quintal; hoje, morando no Chuy brasileiro, abandonou o cultivo.
Aliás, além da plantação em casa (serão permitidas, no máximo, seis pés por residência), são outras duas opções para obter a droga: associando-se a uma cooperativa de maconha, com até 45 sócios, ou comprando em farmácias credenciadas pelo governo. De acordo com o texto aprovado por Mujica, a compra será restrita a cidadãos uruguaios ou estrangeiros com visto de permanência, maiores de 18 anos - que só poderão adquirir 40g por mês (cerca de quatro embalagens). Por cada grama, o consumidor deve pagar cerca de 20 pesos uruguaios, o equivalente a R$ 2,00.
As farmácias do Chuy, no entanto, ainda estão reticentes sobre o assunto.
- É um assunto polêmico, não é todo mundo que concorda. Não sabemos se vamos nos cadastrar para vender maconha. Tem muita coisa a ser discutida ainda - diz a farmacêutica Patricia Noboa.
Para Nádia, a regulamentação do mercado da maconha traz benefícios no que diz respeito à diminuição do tráfico e ao uso medicinal da erva. Entretanto, ela critica que os consumidores tenham que se registrar perante o governo.
- Não estou de acordo. Não gosto da ideia de o governo saber quem eu sou e quais os hábitos que cultivo.
Segundo a nova e inédita legislação, os interessados devem apresentar identidade e comprovante de residência à prefeitura e cadastrar suas impressões digitais. Cada um receberá um número de identificação que deverá ser apresentado na farmácia a cada compra. Nas drogarias, uma máquina registra a impressão digital. Só assim, a compra será liberada. A perspectiva do governo uruguaio é que as embalagens de maconha estejam disponíveis nas farmácias a partir de novembro.
Nas próximas semanas, o governo deve abrir concurso público para selecionar as seis empresas que apresentarem as melhores propostas sobre local de produção, origem da erva, tipo de semente e condições de embalagem. Devem ser plantados no país 10 hectares - que renderão até 22 toneladas de maconha, o suficiente para abastecer o mercado local.
A polícia uruguaia afirma que, em meados de agosto, será equipada com aparelhos semelhantes aos bafômetros, mas que em vez de precisar a quantidade de álcool no sangue, medem o quanto de maconha foi ingerido. Quem for pego sob efeito da erva ao volante, será multado e preso.
- Até agora, nada mudou - diz o policial Juan Palado, responsável por cuidar da praça central do Chuy, onde os usuários de maconha normalmente se reúnem.