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- Dinda, fui no Fórum hoje falar com o juiz. Disse que as denúncias que fizeram da Kelly (a madrasta, Graciele Ugulini) eram verdadeiras, e meu pai ficou brabo - cochichou Bernardo à madrinha Clarissa da Silva Oliveira, pelo celular.
Naquele 11 de fevereiro, o garoto participou de audiência de conciliação na Justiça com o pai, Leandro Boldrini. A partir desse momento, o médico teria 90 dias para resgatar a relação com o filho, que havia procurado o Fórum em janeiro para contar que tinha "medo" e pedir para trocar de família.
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A ida à Justiça ocorreu um dia depois de Bernardo voltar de férias da casa da madrinha, que vive em Santa Maria. O telefonema surpreendeu a psicopedagoga:
- Eu não sabia de nada. Quando perguntava se a Kelly o tratava bem, ele mudava de assunto, fugia.
A relação de Clarissa com Bernardo nasceu da amizade que ela tinha com a mãe do menino, Odilaine Uglione, que morreu em 2010. A polícia concluiu que Odilaine, 32 anos, cometeu suicídio.
Clarissa não descarta que as conversas com o afilhado nas férias o motivaram a buscar ajuda:
- Estranhei os remédios que estavam com ele, de tarja preta, fortes. Não tinham receituário. Ele me disse que o pai e a madrasta faziam ele tomar. Mandei não tomar, disse que falaria com o pai dele. E para ele conversar na escola sobre isso, pedir que os professores chamassem o pai. Seria mais fácil do que eu fazer algo daqui (de Santa Maria). Acho que ele voltou mais encorajado. Desde a morte da mãe, ele era apático. Dessa vez, estava diferente, mais rebelde, reagindo.
A madrinha disse já ter pedido à polícia que verifique se havia prescrição para os remédios. Segundo Clarissa, no dia da ligação Bernardo disse que fingia tomá-los e, depois, os jogava no vaso sanitário.
- Fiquei preocupada, perguntei se precisava de ajuda. Ele me disse: "Não, dinda, pode deixar. Eles (o pai e a madrasta) estão lá embaixo conversando, não me disseram nada. O pai só ficou brabo, mas não me fez nada".
Familiares garantem que pai e filho tinham boa relação
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ÁUDIO: Leandro chama Bernardo de "esse menino" durante sumiço
Relembre o caso
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini - que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município -, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo.
Bernardo nunca deixou de admirar o pai e só queria atenção
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