
Uma conversa por telefone com o governador Tarso Genro, na noite de terça-feira, adiou a ida do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao Rio Grande do Sul. Sem proposta concreta para resolver o impasse entre indígenas e agricultores no norte do Estado, a opção foi levar as discussões para Brasília. Em entrevista a ZH, Cardozo criticou o clima tenso no Estado e prometeu visitar, "brevemente", as áreas conflagradas.
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Por que o senhor não foi ao RS?
Foi o resultado de uma avaliação conjunta com o governador Tarso Genro. Nos outros Estados, conseguimos colocar todos os lados para conversar. Em Santa Catarina, estamos obtendo sucesso, mas no Rio Grande do Sul o clima está muito difícil. Decidimos desenhar um cronograma e trazer a negociação para Brasília. Estou muito esperançoso.
O que o senhor acertou com o governador?
Um ajuste com relação aos estudos sobre a área e a transferência das negociações para Brasília. Temos de encontrar um caminho equilibrado. Há lideranças políticas querendo apagar incêndio com querosene, piorando ainda mais a situação.
O senhor se refere a declarações por parte de deputados da bancada ruralista, como Luis Carlos Heinze (PP-RS)?
Não estou citando nomes. Há radicalismos dos dois lados.
Dois agricultores foram assassinados por índios, agravando o conflito. Isso preocupa?
Não podemos aceitar que nada seja resolvido com violência. Uma coisa é a investigação de um delito, que será feita, não importa quem o tenha praticado. Outra é a mesa de diálogo e a solução que precisamos encontrar.
A situação em Faxinalzinho é grave. O prefeito cancelou as aulas. O senhor acredita que esta proposta de mediação acalmará os ânimos?
Sim. Quem imagina que vai resolver este conflito à força, ignorando a presença da União, vai cair em um equívoco. Não vamos permitir que a ordem pública seja ferida. E algumas pessoas não querem saber da mediação porque vão perder o discurso político.
O ministério poderá enviar mais policiais federais para Faxinalzinho?
Estou acompanhando a situação. Por enquanto, não temos essa determinação.
O governo já tem uma proposta para o caso?
Não há um modelo único a ser seguido. Depende da área, da região. Para três áreas em Santa Catarina, encontramos soluções distintas. Em um caso, que está na Justiça, o governo do Estado colocou os índios, provisoriamente, em outra área. Em Mato Preto (RS), já começamos um diálogo sobre a redução do tamanho das áreas.
São problemas que se arrastam há anos. Por que a demora?
Porque não é simples de ser resolvido. O mais simples para o governo seria baixar uma portaria, mas o caso poderia parar na Justiça. No Sul da Bahia, temos um caso que ficou em litígio por 70 anos, até que o STF julgou. Queremos evitar a judicialização.
O senhor já tratou do assunto com a presidente?
Não conversamos sobre essa tema.
O senhor ainda pretende ir ao RS?
Sim, é claro. Vamos fazer rodadas de negociações em Brasília e depois pretendo ir a cada área, para ver de perto a situação.
Quando?
Brevemente.