O teatro Royal Lyceum Theatre está com uma peça de sucesso na cidade. Uma obra levemente escabrosa que conta a história de como o parlamento escocês votou em favor de sua dissolução e da união com o reino da Inglaterra em 1707.
"Union", de Tim Barrow, mostra os ingleses como conspiradores, a Rainha Anne como uma simplória e os escoceses que votaram pela união como corruptos subornados pelos ingleses e seus agentes, incluindo Daniel Defoe. Muitas coisas conturbam os corações escoceses: um pobre bardo escocês apaixonado, ingleses pérfidos, aristocratas cínicos, muito sexo e muito uísque.
Estreando poucos meses antes de a Escócia decidir em plebiscito se deseja recuperar a independência, a peça recebeu críticas mistas, o que o diretor, Mark Thomson, descreveu como "altos e baixos, da taquicardia à normalidade". - Ela estreia agora como um ato político, para confrontar a Escócia consigo mesma, diz o diretor.
Barrow afirma que votará pela independência escocesa no dia 18 de setembro. Thomson se posiciona como um dos grandes indecisos. Depois de cada apresentação, é realizada uma pesquisa informal entre o público, que corre para colocar as cédulas nas urnas instaladas no saguão, perguntando se a união foi uma boa ideia há 307 anos - "Sim", ou "Não".
- Não, decidiu John Menzies, colocando seu voto na urna.
- Nunca deveríamos ter vendido nosso país, jamais. Por sorte, em breve teremos a chance de resolver essa situação, afirmou o designer gráfico Menzies, de 46 anos.
Os votos em favor da independência pareciam superar por pouco os contrários. Porém, na prática a decisão ainda pende para o outro lado, com todas as pesquisas até o momento indicando uma vitória clara da união, embora com uma margem cada vez menor.
Para os favoráveis à independência, trata-se de uma corrida contra o tempo: ao longo dos últimos seis meses, as pessoas passaram a pender mais para a independência, mas ao menos um sexto dos eleitores escoceses das últimas pesquisas ainda não haviam se decidido ou preferiam não responder.
- Se esse referendo tivesse sido feito há cinco anos, a resposta seria bem simples. Do jeito que as coisas estão, a diferença será bem pequena, afirmou Jean Urquhart, membro independente do parlamento escocês vindo das Terras Altas, e que estava na plateia. Urquhart, defensor da independência, foi eleito como membro do Partido Nacional Escocês, há anos à frente do governo, mas que deixou o partido em outubro por apoiar o desarmamento nuclear, quando o partido reverteu sua política e decidiu que o país continuaria a ser membro da OTAN.
Essas mudanças causaram dúvidas sobre a independência escocesa também, com o partido defendendo o uso da libra esterlina após a independência, em vez do euro, a despeito de todos os partidos britânicos terem afirmando que a Escócia independente não teria o direito de usar a libra. Será que a Escócia independente seria membro da União Europeia? Usaria a libra esterlina? Essas questões que dependem das decisões de outros não são fáceis de responder.
Com as pesquisas ficando cada vez mais apertadas, o ex-primeiro ministro trabalhista Gordon Brown fez um discurso em Glasgow, em abril, defendendo a união e argumentando que a Escócia tem mais chances econômicas dentro do Reino Unido, especialmente em termos de aposentadorias e da seguridade social.
Levantar dúvidas sobre a força e a viabilidade da economia na Escócia independente é a principal estratégia da campanha anti-independência, conhecida como Better Togethe" - Melhor juntos, em tradução literal. Porém, a campanha do "não" enfatiza o negativo e o sentido de que os ingleses tomam conta dos escoceses e os consideram ineficientes e incompetentes, alimentando a campanha pela independência e causando indignação.
As evidências do debate estão em toda a parte, com cartazes em lojas exibindo as preferências dos proprietários, e adesivos como "Chega de dominação inglesa!" colados nas calçadas.
O referendo, aberto a todos os eleitores registrados, é vinculativo e precisa ser aprovado por maioria simples.
As livrarias dão destaque a volumes de cultura e história escocesa, os centros comunitários planejam aulas de história para o verão e praticamente todos os segmentos da sociedade fazem alguma campanha em favor da independência, muitas das quais apoiadas pelo Partido Nacional Escocês, liderado por Alex Salmond. Existem grupos do "Sim" compostos por mães, estudantes, veteranos, pequenas empresas, lésbicas, gays e bissexuais - e até mesmo de taxistas.
Iluta Stivrina, de 24 anos, se mudou da Lituânia para cá há quatro anos. Ela ama o país, mas acredita que os escoceses não saibam exatamente em favor de que estão votando. - Eu conheço todos os problemas da independência de um país pequeno, afirmou.
No Centro de Narrativas Escocesas, que inclui um café, um teatro e a residência medieval de John Knox, o pai da reforma escocesa, as prateleiras estão repletas de livros sobre a Escócia. Gravada na moderna entrada de pedra, uma citação do romancista escocês Alasdair Gray: "Trabalhe como se vivesse nos primeiros dias de uma nação melhor".
Mas para Elaine Jenkins, que trabalha lá, o debate está ficando desconfortavelmente acirrado, uma das razões pelas quais o centro decidiu não realizar mais sessões de debate. - As pessoas acabam perdendo a linha, afirmou.
Jenkins votará pelo "não" em setembro, afirmou, acrescentando que se sente tanto escocesa, quanto britânica, e que não irá ceder a nenhuma das identidades. - Em escala mundial, estamos melhores dentro do Reino Unido, afirmou.
Porém, Malcolm Fraser, arquiteto de Edimburgo que projetou o edifício moderno do Centro de Narrativas Escocesas não poderia discordar mais. Apoiador fervoroso da independência, Fraser é diretor da Campanha Radical pela Independência. - A única forma de ir em frente é ser pequeno, vigoroso, independente e capaz de fazer negócios com o mundo todo, afirmou. Ele deposita sua fé em um eleitorado muito sofisticado, no que chama alegremente de "uma nação de mestiços".
As pessoas se assustam com a paixão gerada pelo debate, mas Fraser afirmou que ninguém deveria ter medo disso. De acordo com ele, a Grã-Bretanha está passando pelo inevitável fim do império. - Já era tempo de a Escócia se tornar um pouco mais dinamarquesa, dando adeus às políticas direitistas da Inglaterra, afirmou.
- As campanhas em favor da união acreditam que os escoceses são pequenos, pobres e estúpidos demais. E isso vai em favor da campanha pelo 'sim', afirmou Fraser.
Elas também conseguiram apoios importantes. Um deles foi o pedido de David Bowie, que possui alguns ancestrais escoceses. "Escócia, fique conosco!", foi sua mensagem na cerimônia do BRIT Awards em fevereiro. Bowie não pode ir à cerimônia, mas pediu à modelo Kate Moss, que estava vestida como seu alter ego, Ziggy Stardust, que fizesse o discurso em seu nome.
O primeiro-ministro David Cameron, que estava assistindo à cerimônia pela TV, afirmou ter se emocionado ao ouvir a mensagem de Bowie, mas isso não foi unânime. Em pouco tempo, as páginas de Bowie no Twitter e no Facebook sofreram uma avalanche de ridicularizações e comentários como "Volte para Marte".
Ian Rankin, o romancista que criou o popular e desajustado Inspetor John Rebus e a detetive-sargento, Siobhan Clarke, é uma das maiores estrelas da Escócia. Rankin demonstra ter conflitos genuínos em relação à votação.
- O coração diz, 'Vá em frente', a cabeça retruca, 'Antes você precisa de algumas respostas', afirmou Rankin.
Mas como seu personagem principal votaria? Rebus diria não, mas Siobhan certamente diria sim, afirmou Rankin.

