Desde o início da paralisação dos rodoviários da cidade do Rio de Janeiro, na madrugada desta quinta-feira, 325 ônibus foram depredados. A informação foi confirmada pelo Sindicato das Empresas de Ônibus do município (Rio Ônibus). As principais avarias são quebra de para-brisas, janelas e retrovisores. A área mais afetada é a zona oeste, incluindo as regiões da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.
O governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, disse que não vai tolerar atos de vandalismo durante a paralisação dos rodoviários do município do Rio de Janeiro. Segundo o governador, os policiais militares têm ordens de prender e encaminhar para a delegacia quem depredar os coletivos.
- Vamos desobstruir as pistas. Não vamos tolerar que se feche, que se façam piquetes. Quem depredar ônibus, vai ser preso. É vandalismo. Isso não ajuda em nada o trabalhador. Sabemos que isso é uma greve fora do sindicato. O sindicato antecipou o reajuste. Nós vamos cumprir a lei. Não vamos tolerar vandalismo no Rio de Janeiro, depredação de patrimônio público ou privado e fechamento de pistas - afirmou o governador.
Pezão disse ainda que está totalmente aberto ao diálogo e que, com ações violentas, os manifestantes não vão conquistar nenhum benefício:
- Eu recebo todas as categorias que me pedem. Eu nunca deixei de receber nenhum movimento sindical. A gente vai sempre na linha do diálogo. O nosso governo é de diálogo. Agora, com depredações, vandalismos, não vai avançar.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, informou que está cobrando da Rio Ônibus uma solução para a paralisação e não descarta punir a concessionária.
- Não posso negociar com funcionário que não é meu. Eu negocio com os meus funcionários. Isso eles discutem com os patrões deles. O que eu posso fazer é obrigar a Rio Ônibus a resolver essa situação sob penas contratuais. Tem penas contratuais, até a cassação da concessão - explicou.
De acordo com Paes, todo trabalhador tem direito a fazer manifestações populares. No entanto, isso não permite que os grevistas depredem ônibus e impeçam que colegas de trabalho continuem o serviço.
- Os motoristas são funcionários das empresas. Eles recebem a passagem todo dia dos trabalhadores que pegam o ônibus. Uma passagem que foi reajustada e, até onde eu entendi, permitiu o reajuste aos motoristas de ônibus. Conversei com o presidente da Rio Ônibus hoje. Ele disse que está tomando as medidas cabíveis. Pedi para que a Secretaria de Transportes planeje alguma contingência, principalmente, para a volta pra casa - completou o prefeito.
No turno da manhã os pontos de ônibus ficaram lotados e piquetes foram montados em diversos pontos da cidade. Manifestantes depredaram coletivos por repúdio aos colegas de trabalho que não aderiram ao movimento grevista.
Na Avenida Brasil, principal ligação das zonas norte e oeste ao centro da cidade, um motorista acelerou em direção ao piquete e feriu dois manifestantes próximo à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, na zona norte. Cinco pessoas foram detidas, entre elas, o motorista do carro. Também há piquetes na Avenida Brasil perto da Parada de Lucas.
Em Realengo, na zona oeste do Rio, um ônibus teve o retrovisor quebrado por um homem que seguia o coletivo em um carro. Na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, rodoviários montaram piquetes e interditaram trechos de acesso à comunidade. Um grupo interdita a pista lateral da Avenida Ayrton Senna em direção à Barra da Tijuca. Piquetes também foram montados na Avenida Marechal Rondon, principal ligação entre o Méier e o bairro do Maracanã, na zona norte.
O corredor expresso BRT Transveste está com o trecho entre Santa Cruz e Campo Grande, bairros da zona oeste, fechado por motivos de segurança.
O engenheiro Rodrigo Brandão disse que saiu de madrugada de casa e os pontos de ônibus estavam cheios, mas sem veículos circulando.
- Saí de casa por volta das 5h. Fiquei 20 minutos no ponto, e não havia passado o ônibus que geralmente passa no horário. Tive que caminhar para pegar a van, que estava superlotada. Observei que na rodoviária de Campo Grande não havia nenhum ônibus e a única opção era o trem - afirma.
A técnica de enfermagem Adriana Oliveira se atrasou para levar a sua filha de 15 anos ao médico devido ao longo engarrafamento na Avenida Dom Hélder Câmara, na zona norte do Rio, e a demora para conseguir entrar em um ônibus.
- Saí de casa às 6h40. Peguei o ônibus 40 minutos depois. Congestionamento horrível. Demoro só 40 minutos da minha casa até o hospital, hoje já estou levando mais de uma hora - conta.
O vice-presidente da Rio Ônibus, Otacílio Monteiro, que representa o sindicato patronal, considerou a greve puramente política. Segundo ele, os grevistas montaram carros de som e piquetes em vários pontos da cidade. Monteiro disse que somente a empresa de ônibus Jabour, em Realengo, teve 60 ônibus depredados e a Pavunense, 11.
- Essa é uma atitude criminosa porque você não sabe com quem negociar - diz.
Otacílio Monteiro também comentou que os ônibus são responsáveis por 80% do transporte de passageiros. São transportadas 3,5 milhões de pessoas por dia, além de 900 mil que têm direito a gratuidade, como idosos, estudantes, deficientes físicos e doentes crônicos.
- Nós antecipamos o acordo coletivo em dois meses, com a retroatividade a 1º de abril. O ganho real dos rodoviários chega a 11,6%, além do reajuste de 40% na cesta básica. É o maior aumento pago em todo o território nacional. Isso é péssimo para o Rio de Janeiro, principalmente com a proximidade da Copa do Mundo - explica.
Devido à greve, a concessionária CCR Barcas - que realiza transporte aquaviário - registrou aumento de 300% na demanda de passageiros da linha que atende o bairro do Cocotá, na Ilha do Governador, na comparação com a média das quintas-feiras de maio do ano passado. Até às 10h, foram transportados, aproximadamente, 3,6 mil passageiros no trajeto Cocotá-Praça XV. Durante o horário de pico do turno da manhã, a concessionária reforçou o efetivo e foram necessárias três viagens extras às 6h40min, 7h30min e 9h05min para atender à grande demanda na Ilha do Governador.
Mesmo com o reforço na operação do Cocotá, a programação seguiu normalmente nas outras linhas pela manhã. O trajeto Charitas-Praça XV também registrou aumento na demanda. Até às 10h, aproximadamente 4,3 mil usuários fizeram a travessia, número 10% maior que a média das quintas-feiras de maio do ano passado. Na ligação Praça Arariboia-Praça XV, a CCR Barcas transportou, até às 10h, 27,7 mil passageiros, mantendo a média de usuários.
De acordo com a Polícia Militar (PM), o Comando do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE) informou que houve uma manifestação de rodoviários do Rio, no início da manhã, na altura da Vila do João, em Manguinhos, na qual aproximadamente 100 pessoas tentaram fechar a pista da Avenida Brasil, no sentido centro. Policiais negociavam com os grevistas para manter as pistas liberadas.
A PM acionou um plano de operação especial para a greve dos rodoviários. Viaturas estão próximas às empresas de ônibus, monitorando o trânsito. Policiais estão posicionados ao longo das passarelas da Avenida Brasil, monitorando o trânsito e também há patrulhas em pontos estratégicos para evitar que as pistas sejam fechadas por piquetes de grevistas.
* Agência Brasil
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