
Preso desde o último sábado em Frederico Westphalen suspeito de participar da morte do menino Bernardo Uglione Boldrini, o motorista Evandro Wirganovicz - irmão da assistente social Edelvânia Wirganovicz, que confessou o crime - se negou a prestar depoimento nesta segunda-feira à Polícia Civil de Três Passos. Recolhido no presídio da cidade, ele afirmou, conforme seu advogado, que só aceita falar com o uso do detector de mentiras:
- Falará em juízo ou se disponibilizarem um detector de mentiras, para provar que realmente ele não tem problema algum. Não há provas contra o Evandro, ele não tem nada a ver com a história - argumentou Demetryus Eugenio Grapiglia.
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O defensor entrou com um pedido de revogação da prisão temporária de 30 dias, deferido pelo juiz Fernando Vieira dos Santos, da Comarca de Três Passos.
A polícia chegou até Evandro a partir do relato de um integrante aposentado da Brigada Militar, que desconfiou de um carro visto próximo ao local em que o corpo foi enterrado. A testemunha contou ter visto o veículo de Evandro, um Chevette amarelo escuro, por volta das 20h30min do dia 3 de abril - um dia antes do crime - estacionado a 50 metros do local onde foi achado o corpo de Bernardo, na localidade de Linha São Dimas, no interior de Cristal do Sul.
Ele teria feito a cova na qual a criança foi encontrada, mas não está descartada também participação no planejamento da morte, já que o buraco foi aberto dias antes do homicídio.
O militar aposentado conhece Evandro e sabia que ele tem um carro com essas características. Mas como é dono de uma propriedade na região e desconfiou da presença do veículo parado naquele local, resolveu anotar a placa para confirmar quem era o dono. A testemunha não viu ninguém nas proximidades do Chevette e, posteriormente, confirmou que o veículo era de propriedade de Evandro.
Só voltou a se preocupar com o assunto quando Bernardo foi encontrado a partir da confissão de Edelvânia. A testemunha relacionou os fatos, suspeitou que Evandro poderia ter cavado o buraco e procurou a polícia, em 16 de abril, dois dias depois das prisões de Edelvânia, Graciele Ugulini, e do pai do menino, Leandro Boldrini.
A testemunha descreveu o local onde foi feito o buraco como de "terra muito dura, com muitas raízes". Por isso, desconfiou que as mulheres tiveram ajuda de alguém, que poderia ser Evandro. O militar aposentado também contou que Edelvânia esteve nas proximidades do local em que estava o corpo no domingo, dia 6 de abril, dois dias depois do crime. Ao encontrar a testemunha, ela teria dito que estava ali para "molhar os pés no rio".
Ao saber da prisão do irmão, Edelvânia Wirganovicz escreveu carta garantindo que Evandro não tem qualquer envolvimento com o assassinato. A mensagem, entregue a seu advogado, foi escrita na cela em que ela está recolhida na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana.
"Meu irmão não participou", afirmou a assistente social.
Relembre o caso:
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, 36 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini - que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município -, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo.