
Militante do movimento negro em Porto Alegre, o estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Thales Machado, 20 anos, denunciou um funcionário da boate Beco203 à polícia por racismo. A confusão aconteceu na noite do último sábado, dia 3. O jovem diz ter sido chamado de "negrinho racistinha" quando entrava no local com um grupo de amigos para comemorar o aniversário de um deles:
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- Na hora de fazer o cadastro no caixa, um amigo esbarrou em mim e eu disse 'qual é, branquelo?', como sempre faço. O caixa falou 'aqui tu não entra, aqui não entra racista'. Eu questionei e ele falou 'tu é um negrinho racistinha'. Os meus amigos ficaram mais alterados do que eu com a situação.
Ocorrência foi registrada e encaminhada à 10ª DP

Indignados com o suposto ato racista, os jovens ficaram na frente do Beco203 e conversaram com um funcionário da casa noturna, que teria dito que eles não entrariam. Isso gerou, segundo Thales, uma reação de diversas pessoas que aguardavam na fila. Diante do constrangimento, o jovem conta que um segurança autorizou o ingresso na boate:
- Na hora que voltamos, o caixa, uma segurança e outra mulher me chamaram de racista, disseram que eu deveria estudar História para saber de casos de racismo de negros contra brancos, e eu só ignorei. Depois, lá dentro, chorei muito. Um segurança me pediu desculpas e me apoiou. Alguns colegas ficaram chocados e foram embora. O constrangimento foi coletivo.
Um dos jovens chocados foi Guilherme Simionato, que organizou o aniversário. Foi ele que Thales chamou de branquelo:
- Houve ato racista, claro. Ele falou "seu negrinho racista." Estava junto com o Thales. Quando ouvi isso, chamei o caixa de racista e ele se manteve firme na posição e ainda debochou. Relatei isso à polícia.
- O meu sentimento é de impotência e tristeza. Dos meus pais também. O mais impressionante é que isso acontece após toda a discussão sobre o caso envolvendo o Daniel Alves (jogador do Barcelona, que comeu uma banana atirada no campo contra ele). Tentaram levar o tema #somostodosmacacos de uma maneira bonitinha, mas não se pode ironizar uma luta de tanta gente, de tantos anos, uma luta inclusive minha - lamenta Thales.
Boate nega racismo e fala em mal-entendido
Ao tomarem conhecimento da denúncia, os administradores do Beco203 chamaram os funcionários para uma reunião e ouviram todos os que estavam presentes na boate na noite de sábado. A diretora de comunicação da casa, Michele Fatturi, garante que foi um mal-entendido:
- Primamos pelo respeito, acima de tudo, e uma acusação de racismo é muito grave, pois fere questões que defendemos. Temos 35% de negros no nosso quadro de funcionários e uma parcela grande de gays. Pelo que ouvimos e apuramos, não se configura um ato de racismo. Foi um mal entendido. O funcionário do caixa tomou uma atitude errada, mas não foi racista.
Para a Polícia Civil, o caso precisa ser investigado. Algumas testemunhas devem ser chamadas para prestar depoimento a partir desta terça-feira.
Veja o vídeo que gerou a campanha #somostodosmacacos