
A Justiça decidiu manter presos os envolvidos na morte de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos. Na noite desta terça-feira, o pai do menino, Leandro Boldrini, a madrasta dele, Graciele Ugulini, e a amiga dela que teria ajudado no crime, Edelvânia Wirganovicz, tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz Marcos Luís Agostini, da Comarca de Três Passos.
Leia mais:
Quais são os próximos passos após a conclusão do inquérito pela polícia
MP dá parecer favorável à prisão preventiva de indiciados
Polícia indicia pai de Bernardo como um dos mentores do crime
Os três foram indiciados nesta terça-feira pela Polícia Civil. O inquérito foi entregue à Justiça, e a polícia havia pedido a prisão preventiva dos três, ao que o Ministério Público concedeu parecer favorável. O MP deve oferecer denúncia contra os indiciados nos próximos dias.
Segundo a representação da polícia, os três cometeram os delitos de homicídio qualificado e ocultação de cadáver. É apontada existência de prova da materialidade dos delitos e indícios de autoria em relação aos representados.
O Ministério Público opinou pelo acolhimento da representação, referindo que o grau de periculosidade dos indiciados é revelado pela conduta fria, premeditada, atroz e covarde na prática do fato, que abalou a ordem pública.
O órgão também argumentou que algumas testemunhas relataram o temor de sofrer represálias dos investigados, por terem prestado declarações acerca dos fatos. Há, ainda, o risco dos indiciados fugirem do país em caso de concessão da liberdade.
Os próximos passos após a conclusão do inquérito também envolvem a aceitação da denúncia pela Justiça, mas, segundo especialistas, um júri só aconteceria em quatro ou cinco anos.
Os argumentos da decisão judicial
Ao decidir, o Juiz considerou que, em análise inicial, há nos autos indícios da participação dos três no crime:
"A representada Edelvânia, amiga da madrasta, admitiu a prática dos fatos, conforme se verifica do depoimento", assinalou o magistrado. "Segundo consta em suas declarações, a morte da vítima foi minuciosamente planejada e executada". Citou que o depoimento encontra amparo no conjunto probatório, exemplificando: as imagens das câmeras de vigilância; a quantia em dinheiro entregue na época pela representada à construtora como pagamento da prestação de um apartamento; as conversas dela com Graciele logo após o fato e a forma como combinavam as declarações que prestariam à polícia.
Já Graciele, madrasta da vítima, admitiu em parte a autoria dos fatos investigados. Afirmou ter apenas ministrado remédio para acalmar o menino, sem a intenção de matá-la. "Essa admissão parcial, aliada ao depoimento da representada Edelvânia, que imputa à representada Graciele o planejamento e execução do delito, revela indícios suficientes de autoria delitiva em relação às duas representadas". Além disso, há relatos de que Graciele tinha há algum tempo a intenção de matar a vítima.
Da mesma forma, o Juiz identificou indícios de participação em relação ao representado Leandro Boldrini, pai da vítima. "Notadamente em relação à postura suspeita do pai ao realizar a comunicação do desaparecimento, mostrando naquele dia preocupação que não tinha normalmente com as saídas do filho e hesitando quanto à posse do telefone da vítima, efetuando ligações que ele de antemão sabia inócuas, com a intenção de afastar qualquer suspeita".
Além disso, há declarações prestadas por testemunhas de que Boldrini, juntamente com a madrasta, tinha a ideia de assassinar o próprio filho. E Leandro teria fornecido receita médica para Edelvânia, no dia 2 de abril, do medicamento Midazolam. "O fornecimento dessa receita médica, usada para aquisição do medicamento que teria sido ministrado na vítima, liga o representado Leandro a Edelvânia, ao menos em análise sumária, indiciando a ciência e participação dele no fato criminoso", avalia o julgador.
E prossegue: "Também merece registro o diálogo mantido entre familiares da representada Graciele, interceptado com autorização judicial, onde eles afirmam que Leandro tem ligação com o homicídio".
Com base nesses elementos, o juiz decretou as prisões preventivas para garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e aplicação da lei penal.
Veja como teria ocorrido o crime:
Confira como os delegados apontaram a participação de cada um:
- Leandro Boldrini: teria atuado no crime e na ocultação do cadáver como mentor, junto da mulher. Teria auxiliado na compra de Midazolam fornecendo receita azul, além de planejar a história para ficar impune.
- Graciele Ugulini: seria uma das mentoras, com o marido. Também teria atuado no crime e na ocultação do cadáver.
- Edelvânia Wirganovicz: seria uma das executoras do homicídio e teria ocultado o cadáver.
A Polícia Civil apontou quatro qualificadoras para o crime: paga ou promessa de recompensa (Edelvânia teria recebido dinheiro para colaborar), motivo fútil (o homicídio teria sido cometido por desarmonia no relacionamento familiar), meio insidioso (aplicação de uma injeção letal) e dissimulação que impossibilitou defesa da vítima (para realização do crime, casal teria informado que vítima buscaria um aquário).
Caso sejam condenados por esses crimes, as penas podem variar de 12 a 30 anos de reclusão por homicídio qualificado (com acréscimo a ser estabelecido por conta das agravantes) e de um a três anos por ocultação de cadáver.
Contrapontos
O que diz Jader Marques, advogado de Leandro Boldrini:
"Desde o início estou à espera de um elemento concreto, de uma evidência concreta que possa identificar a participação do meu cliente, a ciência dele em relação a esses fatos. Eu saio dessa entrevista com a redobrada convicção, mais firme ainda que já tinha, de que houve uma divulgação prematura da convicção da autoridade policial. São indícios tão fracos, são impressões subjetivas da autoridade."
Sobre o suposto acordo entre as defesas, Jader Marques afirmou: "É algo lamentável, porque na véspera da entrevista coletiva, houve o vazamento dessa informação de maneira criminosa. O mais interessante é o seguinte: vamos incriminar Leandro porque as defesas conversaram. Eu vou tomar o cuidado de revelar essas escutas a toda a população. Eu busco o contato com os demais advogados e a minha questão é muito simples: as clientes de vocês vão confessar o crime? Vão falar a verdade ou não? Como vocês pretendem orientar o cliente de vocês a respeito desse fato? Nós todos sabemos, ninguém é ingênuo a ponto de negar, que o advogado conversa com o seu cliente e muitas vezes diz que não é o melhor momento para falar."
Zero Hora busca contato com os advogados das outras duas indiciadas.