
Uma contingência histórica liga os insurgentes do Boko Haram, na Nigéria, à história do Brasil. Em janeiro de 1835, oito meses antes da eclosão da Revolução Farroupilha, escravos de Salvador e Santo Amaro da Purificação lançaram-se à guerra santa (jihad) contra senhores e autoridades da Bahia. O núcleo dos revoltosos tinha uma peculiaridade: era constituído de africanos de etnia haussá, procedentes do norte e noroeste da atual Nigéria.
Os integrantes desse grupo falavam e escreviam em árabe e, às sextas-feiras, banhavam-se e vestiam roupas brancas semelhantes aos atuais abadás para rezar a um deus, Alá, que nada significava para os demais cativos. Muçulmanos, os haussás ficaram conhecidos como malês. A revolta de 1835, que pretendia instaurar um califado na Bahia, foi esmagada. Seis líderes foram condenados à forca, e outros 33, degredados para a África.
Como os malês, os integrantes do Boko Haram são haussás. Como muçulmanos, são minoritários num país de maioria cristã. Sua região de origem, ao norte, tornou-se terra de ninguém, na qual operam grupos jihadistas, alguns ligados à Al-Qaeda no Magreb Islâmico (Aqim), hoje a mais ativa franquia da rede terrorista.
O sequestro de 276 estudantes é apenas a última das atrocidades do Boko Haram. Desde 2009, quando se iniciou a fase mais aguda da guerra civil no norte da Nigéria, o grupo matou mais de 3 mil pessoas. Diferentemente do que ocorreu no Mali, onde o governo pediu ajuda à ex-metrópole colonial francesa, o regime do presidente Goodluck Jonathan depende da ajuda financeira americana para combater o Boko Haram. Para as meninas reféns, a solidariedade internacional não é um recurso a mais. É a única esperança.
Entenda o caso:
O rapto de 276 alunas aconteceu no dia 14 de abril na escola de Chibok (nordeste), no estado de Borno. Das 276 jovens raptadas, 53 conseguiram escapar e 223 seguem em poder dos combatentes islamitas.
Informações da imprensa local indicam que algumas dessas 223 estudantes ainda em cativeiro já foram vendidas como esposas na fronteira com o Chade e com Camarões ao preço de 12 dólares.
Informações da Agência AFP