
Após registrar queda no ano passado, o desmatamento da Mata Atlântica voltou a crescer no Rio Grande do Sul. Se no período entre 2011 e 2012 o Estado havia diminuído em 12% a área desmatada, entre 2012 e 2013 o cenário é considerado mais severo: aumentou em 43%. Os dados são do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgados no fim de maio pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O aumento é quase cinco vezes maior do que o registrado no Brasil inteiro, que teve 9% do bioma desmatado no mesmo período. O estudo aponta que, no país, foram desmatados 23.948 hectares de remanescentes florestais - o maior acréscimo desde 2008, quando foram suprimidos 34.313 hectares.
Já o RS - que tem 51% de sua área protegida por lei (o que inclui também o bioma Pampa), - teve 142 hectares de Mata Atlântica subtraídos, o equivalente a 136 campos de futebol. O número bruto pode parecer pequeno, mas, ainda assim, aflige o secretário adjunto da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), Luís Fernando Perelló, já que remanescem apenas 7,9% da cobertura original de mata no Estado.
- O fato de termos uma fatia muito pequena de Mata Atlântica no Rio Grande do Sul torna a ameaça à biodiversidade ainda maior. Se a supressão da mata aumentou, vai aumentar também o número de espécies ameaçadas de extinção, tanto da flora quanto da fauna gaúchas. Apenas não sabemos, ainda, precisar o quanto - afirma.
Talvez o índice de desmatamento no Estado seja ainda maior do que o apontado pelo Atlas, que o posiciona como oitavo no ranking de desflorestamento. Isso porque a metodologia do levantamento não é capaz de identificar áreas menores de três hectares.
- E como sabemos que uma das características marcantes do Rio Grande do Sul é a existência de pequenas propriedades, pode ser que o desmatamento seja ainda maior, assim como o percentual de florestas - sugere a diretora-executiva da Fundação, Márcia Hirota.
De acordo com ela, o trabalho deve servir para subsidiar políticas públicas de preservação da Mata Atlântica e análises mais profundas por parte de cada Estado.
- Há algumas informações isoladas, mas o estudo não aponta, por exemplo, se a supressão ocorreu devido à queimada ou se foi um desmatamento não autorizado. Nossa recomendação é que cada Estado analise sua situação de forma mais focada - diz.
Para Perelló, o desflorestamento é fruto da expansão urbana de municípios encravados no pouco que resta de Mata Atlântica no Estado.
- Na medida em que as cidades aumentam, as áreas de mata estão sendo convertidas em sistemas viários e novos loteamentos - explica.
E não é só a Mata Atlântica que sofre impacto no Rio Grande do Sul. O bioma Pampa, aponta o secretário, é ainda mais preocupante: para transformá-los em lavouras, campos nativos já sofreram desmatamento de até 55 mil hectares em Dom Pedrito, por exemplo.
- Estamos perdendo nossos ecossistemas naturais - lamenta.
O pesquisador titular do Inpe e coordenador técnico do estudo, Flávio Jorge Ponzoni, afirma que o desmatamento no Estado é relativamente pequeno se comparado com outros estados, como Minas Gerais, que subtraiu mais de 8,4 mil hectares de Mata Atlântica.
- Não se nota no Rio Grande do Sul eventos muito impactantes ou desmatamento em grande escala. Na Serra Gaúcha, onde está localizada a maior parte da Mata, o relevo acidentado dificulta o acesso das pessoas e, consequentemente, mantém a floresta mais protegida.
A projeção para o sul do país, no entanto, não é das melhores: segundo Ponzoni, espera-se que, nos próximos anos, a área desmatada fique na faixa dos cem hectares.
- É uma pena, mas é o que acontece quando de alguma forma há ocupação humana.