Um tribunal egípcio condenou nesta segunda-feira três jornalistas da Al-Jazeera, acusados de apoiar os islamitas, a uma pede de sete a 10 anos de prisão. Entre os condenados estão o jornalista egípcio-canadense Mohamed Fadel Fahmy, diretor do escritório da Al-Jazeera antes da proibição do canal no Egito e o australiano Peter Greste - que foram condenados a sete anos de prisão. O egípcio aher Mohamed recebeu a mesma condenação e uma segunda pena de três anos, o que significa uma sentença de 10 anos. Os três estavam detidos há quase 160 dias.
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O caso ainda envolveu outros nove acusados, julgados à revelia - incluindo três jornalistas estrangeiros, dois britânicos e um holandês - que também foram condenados a 10 anos de prisão. No total, 16 egípcios estavam acusados de integrar uma "organização terrorista" -- a Irmandade Muçulmana - e de "tentativa de prejudicar a imagem do Egito". Quatro estrangeiros foram acusados de divulgar "notícias falsas" para apoiar a Irmandade.
A sentença foi anunciada em um contexto de violenta repressão dos manifestantes pró-Mursi e duas semanas após a eleição presidencial de Abdul Fatah al-Sissi, com 96,9% dos votos. O marechal da reserva já comandava de fato o país desde a destituição e detenção de Mursi em 3 de julho de 2013. Desde então, as forças de segurança mataram mais de 1,4 mil manifestantes pró-Mursi e prenderam mais de 15 mil pessoas. Centenas delas foram condenadas à morte ou prisão perpétua em processos rápidos.
Greste e Fahmy foram detidos em um quarto de um hotel do Cairo, que foi transformado em uma redação depois de uma operação da polícia contra o escritório da Al-Jazeera, quando cobriam os eventos em 29 de dezembro. Os jornalistas trabalhavam sem a credencial obrigatória para todos os veículos de comunicação.
Após o anúncio do veredicto, Fadel Fahmy gritou: "Vão pagar por isso, vão pagar por isso, eu juro!".
- Estamos destruídos, é difícil encontrar as palavras para descrever o que sentimos. Não esperávamos nada disso, pensávamos que seria absolvido - declarou Andrew Greste, cujo irmão trabalhou anteriormente para a BBC e recebeu vários prêmios. "Vamos lutar por sua libertação", acrescentou. O diretor da Al-Jazeera, Mustafa Sawaq, denunciou a injusta condenação dos jornalistas:
- Denunciamos este tipo de julgamento injusto - declarou Sawaq, que se disse "comovido" com o rigor das penas anunciadas contra os jornalistas durante um discurso exibido no canal árabe.
A ministra australiana das Relações Exteriores, Julia Bishop se declarou "consternada" com a condenação de Peter Greste. Também afirmou que o governo ficou "estupefato" com a severidade da pena infligida.
Prisões repercurtam em nível internacional e campanha em apoio é lançada
Em nível internacional foi lançada uma campanha para apoiar os jornalistas, com o slogan "o jornalismo não é um crime", com a tag #FreeAJStaff. Após a visita do secretário de Estado americano, John Kerry, cujo país prometeu o desbloqueio de um terço de sua importante ajuda militar ao Egito, era esperada uma absolvição. Kerry chegou a pedir que o Egito apoiasse a liberdade de imprensa.
No perfil do Twitter do jornalista austaliano preso, Peter Grace, centenas de pessoas prestam solidariedade
A rede Al-Jazeera classificou o veredicto de injusto, enquanto a Austrália disse estar consternada. A Holanda, por sua vez, chamou para consultas seu embaixador no Egito e afirmou que a jornalista Rena Netjes não havia tido direito "a um julgamento justo", ressaltando que o caso será tratado com a União Europeia.
O Egito considera a rede de televisão como uma porta-voz do Catar, país criticado por seu apoio à Irmandade Muçulmana, enquanto Doha denuncia abertamente as repressões contra os partidários do presidente deposto Mohamed Mursi.
- A detenção de nossos companheiros não tem nenhuma justificativa. É uma vergonha que tenham ficado detidos por 177 dias e a condenação também é ilógica, falta de sentido comum e aparentemente de justiça - declarou a rede do pequeno emirado após o anúncio do veredicto.
Não haverá indulto
Um funcionário da presidência egípcia declarou que nenhum indulto será concedido no momento e que não é possível intervir até que um tribunal de apelação se pronuncie sobre o assunto. Chabane Said, advogado da defesa, denunciou que se tratava de uma sentença política.
- Não há nenhuma prova contra os acusados. Todos os jornalistas devem se preocupar a partir de agora: não há justiça, é a política que dita a lei - disse Said.
O veredicto é divulgado duas semanas após a eleição à presidência do ex-chefe militar Abdel Fatah al-Sissi com 96,9% dos votos. O marechal dirigia de fato o país desde que derrubou e prendeu o presidente anterior, Mohamed Mursi, no dia 3 de julho do ano passado, e lançou uma repressão contra toda a oposição política.
*AFP
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