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Ainda não está decidido, mas tudo indica que os índios e os agricultores gaúchos envolvidos em disputa por terras vão fazer uma espécie de "trégua não oficial" durante os jogos da Copa do Mundo.
Em abril, houve o auge de tensão de uma disputa que já dura mais de uma década, quando caingangues mataram a tiros e pauladas os agricultores e irmãos Alcemar Souza, 41 anos, e Anderson, 26 anos, em Faxinalzinho, cidade agrícola no norte do Estado. A Polícia Federal (PF) prendeu temporariamente, como suspeitos pelas mortes, o cacique Deoclides de Paula, 42 anos, e outros quatro índios. No início da semana, a Justiça Federal de Erechim prorrogou por mais 30 dias a prisão dos indígenas.
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Em maio, os dois lados prometiam fazer "fortes manifestações" durante a Copa para pressionar o Ministério da Justiça (MJ) a solucionar o conflito, que envolve 10 mil índios vivendo em mais de 30 acampamentos e cinco mil famílias de agricultores que veem seus bens desvalorizarem devido à disputa.
Zero Hora consultou dois caciques que pertencem à cúpula da liderança dos índios acampados sobre o que deverá acontecer nos próximos dias.
- Na próxima semana, vamos ter uma reunião dos caciques, onde deverá ser decidido se iremos manter a agenda de protestos durante a Copa - comenta o cacique Leonir Franco, 24 anos, líder do acampamento Passo da Forquilha, em Sananduva, onde caingangues e colonos disputam a posse de 1,9 mil hectares.
A reunião está programada para o meio da semana, em uma cidade ainda não definida. A tendência entre os caciques é aguardar o resultado de negociações que estão em andamento entre os índios e os colonos, intermediadas pelo MJ e pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), ligada ao governo do Estado.
- As negociações estão em andamento. Pelo que falei com os colegas de outros acampamentos, vamos dar um tempo para ver o que acontece - fala o cacique Roberto Carlos dos Santos, 42 anos, do acampamento do Rio do Índio, uma área de 711 hectares que os caingangues e os agricultores disputam em Vicente Dutra, cidade na barranca do Rio Uruguai.
Ecos da reunião em Brasília
O ambiente de "trégua não declarada" no conflito tem a ver com a reunião que caciques e agricultores tiveram com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em Brasília, no mês passado. Entre as decisões tomadas, estava a instalação da Mesa de Diálogo - encontro entre autoridades federais, estaduais, índios e agricultores - nas áreas de conflito.
- No início da semana, tivemos a primeira reunião da Mesa de Diálogo, e vamos ter uma outra dentro de 15 dias. As coisas estão andando, e nós vamos esperar - explica Sidimar Luiz Lavandoski, coordenador de Conflitos Agrários da Fetraf- Sul, uma das organizações que defendem os interesses dos colonos.