Confundido com um ladrão, um professor de História foi espancado por moradores da periferia de São Paulo e só conseguiu se livrar do linchamento quando, segundo ele, foi obrigado a dar uma aula sobre Revolução Francesa. Mesmo assim, André Luiz Ribeiro, 27 anos, foi levado para a delegacia, onde ficou por dois dias, já que o dono do bar assaltado confirmou em depoimento que ele seria o ladrão. As informações são do jornal O Globo.
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O professor contou que quando foi socorrido por Corpo de Bombeiros, teve "dar uma aula" sobre a Revolução Francesa para provar sua inocência. Os bombeiros declararam que "informações são improcedentes" e que não houve "desrespeito ou deboche". André conta que estava correndo na última quarta-feira, no bairro Balneário São José, quando um bar foi assaltado.
- Eu corro dez quilômetros todos os dias, estava de fone de ouvido, sem identificação porque moro por perto, e fui confundido com um dos três assaltantes. O dono do bar e o filho dele me acorrentaram. Umas 20 pessoas me cercaram e começaram a me bater. Acorrentaram meus braços e pernas e me colocaram de barriga para baixo na rua - conta o professor.
Segundo ele, um dos bombeiros que o socorreu teria dito: "Se você é professor de História, então dá uma aula sobre Revolução Francesa":
- Falei que a França era o local onde o antigo regime manifestava maior força, e que a burguesia comandou uma revolta junto com as causas populares, e que havia fases da revolução. Falei por uns três minutos e perguntei se já estava bom.
Ribeiro também diz que foram os bombeiros que salvaram sua vida, pois enquanto ele dava a aula para provar que era professor, ouviu o proprietário do bar dizer que ia buscar um facão. Em seguida, a Polícia Militar chegou no local, o levou para o pronto-socorro da região. Depois, foi encaminhado à delegacia, onde ficou preso até sexta-feira.
- O proprietário do bar assaltado, Djalma dos Santos, 70 anos, negou que tenha espancado o professor. Questionado se tinha certeza de que Ribeiro era um dos assaltantes, ele não confirmou.
- A população que acorrentou, que bateu, eu não fiz nada. O que eu tinha que falar já falei na delegacia. Não adianta nada ficar perguntando, não vou retirar o que disse. Eu gritei que era ladrão e a população da rua foi atrás dele. Se ele não devia nada, vai dar uma mancada dessas de estar correndo no meio dos bandidos na hora do assalto? - afirmou o proprietário do bar.
O advogado de Ribeiro, Cláudio Reimberg, afirmou vai registrar a ocorrência de lesão corporal e tentativa de homicídio.
_ Inicialmente, nossa prioridade era a liberdade dele, até pela integridade dele. Agora, vamos registrar a ocorrência e pedir ação indenizatória tanto do proprietário do bar, quanto do estado, já que no 101º Distrito Policial não foi registrada a ocorrência de agressão a ele, só do assalto ao bar - afirmou o advogado.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o delegado André Antiqueira, titular do 101º DP, "se coloca à disposição para ouvir em depoimento quem tenha novas informações para acrescentar à investigação", já que os criminosos que participaram do crime ainda não foram presos.
- O professor foi preso em flagrante em cumprimento do artigo 302 do Código Penal, já que a vitima o reconheceu como um dos participantes do roubo ao estabelecimento comercial em duas oportunidades. A Justiça concedeu liberdade provisória ao acusado - diz nota da SSP.
Relembre outro caso de justiça com as próprias mãos neste ano
Este não é o primeiro caso de injustiça registrado neste ano. Em maio, uma mulher morreu após ser linchada por moradores do seu bairro em Guarujá, no litoral de São Paulo. Acusada de sequestrar crianças para rituais de magia negra, foi confirmado que o boato era falso.
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