
A bala perdida que matou a faxineira Eliana do Prado dos Santos também atingiu o futuro de seus 11 filhos. Hoje, 11 anos depois do crime, um dos órfãos foi assassinado, três foram presos, duas estão desempregadas e o caçula abandonou os estudos. Dos que trabalham, apenas uma completou o Ensino Médio.
A família, acompanhada durante um ano por Zero Hora, é um retrato das falhas na rede de proteção às crianças e aos adolescentes. Para os filhos de Eliana, os anos de descaso do Estado resultaram em histórias de abandono, crime e tristeza.
TRÊS TRABALHAM
Tatiane quer fazer curso técnico
A dedicação aos estudos e a procura por trabalho cedo fizeram de Tatiane do Prado dos Santos, 24 anos, uma vencedora. Depois que a mãe morreu, ela morou meses com uma irmã, mas foi criada pela mãe de uma colega de colégio, com quem viveu por cinco anos.
A jovem começou a trabalhar aos 16 anos, em um supermercado de Passo Fundo. Na época, conciliava o estudo pela manhã e o trabalho das 13h30min às 20h20min. Quase dois anos depois, conseguiu um emprego melhor remunerado em um frigorífico de Marau, a cerca de 30 quilômetros. Começou a viajar diariamente para trabalhar e acabou abandonando os estudos.
Anos depois, resolveu mudar-se para Marau e morar com o namorado, que trabalha na mesma empresa. Na cidade, também completou o Ensino Médio.
Tatiane após a morte da mãe e atualmente
Fotos: Tadeu Vilani e Diogo Zanatta

Hoje, o casal estuda para passar no vestibular para o curso técnico em Informática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense (IFSUL) em Passo Fundo.
Sobre a família, Tatiane diz que perdeu totalmente o contato com os irmãos:
- Não procuro a família para não me decepcionar.
Os outros órfãos localizados por Zero Hora não sabem onde Tatiane mora. Para ela, manter distância da família é deixar as lembranças tristes da infância adormecidas.
Daiane trabalha em uma fábrica de roupas
Em Não-Me-Toque, a 60 quilômetros de Passo Fundo, mora Daiane do Prado dos Santos, 26 anos. A órfã trabalhou anos como faxineira, mas recentemente conseguiu um emprego em uma fábrica de roupas.
Daiane após a morte da mãe e atualmente
Fotos: Tadeu Vilani e Diogo Zanatta

Quando ficou órfã, aos 14 anos, a jovem foi morar com uma tia materna e três primas. Ficou na casa delas até os 19 anos, quando casou. Contou que nunca foi muito boa com os estudos e só conseguiu completar até a 5ª série.
Depois do casamento, decidiu mudar-se com o marido para Não-Me-Toque, onde mora a família dele. Dois anos depois, teve a filha Nicoly, hoje com quatro anos. Sobre a família, comentou que não fala com os irmãos há seis anos.
Elisiane é faxineira
Basta entrar na casa de Elisiane do Prado dos Santos, 35 anos, para conhecer os tesouros da moradora. Pendurados na parede da sala, três quadros grandes estampam fotos dos filhos Bruna, 12 anos, Brenda, nove anos, e Leonardo, cinco anos.
Elisiane após a morte da mãe e atualmente
Fotos: Tadeu Vilani e Diogo Zanatta

Ela tinha 23 anos quando a mãe morreu e já morava com o marido, com quem vive há 13 anos. É do trabalho dele como ferreiro que vem a maior parte do sustento da família. Elisiane passou anos desempregada, mas recentemente conseguiu um emprego como faxineira, duas vezes por semana.
Leia as histórias dos outros irmãos:
Um filho foi morto e três presos
Filhas estão desempregadas e caçula largou os estudos